O PT não está preocupado com a vitória de algum bolsonarista-raiz (um súdito fiel da famiglia Bolsonaro), pois sabe que isso é altamente improvável. Está preocupado, isto sim, com o surgimento de qualquer candidato que herde os antigos votos antipetistas de Bolsonaro.
Ou seja, o PT tem hoje uma pauta única. Só está preocupado com a possibilidade de Lula não ser reeleito. Qualquer candidato que possa ameaçar a vitória de Lula será o demônio, mesmo que não seja bolsonarista. Qualquer medida que contrarie o imperativo da vitória de Lula será considerada equivalente a um golpe de Estado.
Para o PT a preocupação com o bolsonarismo golpista é apenas uma desculpa para atrair novamente o centro moderado para a campanha Lula 2026, impedindo o surgimento de uma alternativa democrática (não-populista).
Vejamos:
Bolsonaro está preso, inelegível e foi condenado a 27 anos. Não haverá anistia. Ele não será candidato.
Seu filho Eduardo está praticamente exilado, será processado e condenado e não voltará mais ao Brasil. Não será candidato.
Seus outros filhos (um ativo, Flávio e um inativo, Carlos) não são alternativas viáveis. Não serão candidatos.
Michele, a ex-primeira dama, não é confiável aos olhos dos filhos de Bolsonaro e não se sabe se aguentaria uma campanha letal para jejunos, como a que virá.
Não há mais clima para um movimento antissistema que possa ser instrumentalizado para levar a famiglia Bolsonaro de volta ao poder - nem no curto, nem no médio prazos.
Os bolsonaristas da periferia não aceitam essa realidade porque estão estacionados, até agora, na primeira fase do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Sim, os bolsonaristas-raiz (súditos fiéis da famiglia Bolsonaro) ainda estão na fase da negação. Não viram que não haverá Bolsonaro nem nenhum consaguíneo em 2026 (e que, se houvesse, Lula arriscaria vencer no primeiro turno).
Diante dessa realidade, o núcleo duro do bolsonarismo-raiz, aquele composto pela famiglia Bolsonaro e seus súditos fiéis, mesmo que não consiga lançar um candidato competitivo com o sobrenome Bolsonaro, vai tentar destruir qualquer candidatura de oposição a Lula que não se subordine à sua camorra.
Há indicações de que esse núcleo já prefira que Lula vença em 2026. Por que? Porque quer manter o monopólio da oposição e voltar em 2030. Com essa tolice, se transformou no maior cabo eleitoral de Lula.
Para os bolsonaristas-raiz, indo pelo ralo suas chances de ser competitivos nas próximas eleições, é preferível que Lula seja reeleito do que um moderado do campo democrático liberal. Fica mais fácil manter viva sua oposição iliberal antissistema (que também é anticomunista). Novamente, o alvo principal aqui são os democratas (não-populistas).
Mas o PT sabe que existe grande insatisfação com a possibilidade do atual governo se prorrogar por mais um mandato. A maioria dos brasileiros não quer que Lula seja candidato (e vença pela quarta vez), nem que o PT continue no governo.
Lula e o PT estão diante do desafio de modificar essas indisposição da maioria do eleitorado de qualquer jeito. Por isso o governo entrou no modo campanha total - que, para o PT, funciona - para fazer um paralelo militar - mais ou menos como a guerra total (1).
Assim, só há um tema no fulcro das disputas políticas no Brasil: o quarto mandato presidencial de Lula (e o sexto do PT neste século). Tudo o que estamos vendo - da parte do governo, da rede suja do PT e da mídia chapa-branca - são movimentos da campanha Lula 2026.
A rigor não há mais governo. O que há é um comitê de campanha eleitoral Lula 2026, com sedes no Planalto, no Alvorada e, infelizmente, em partes do Palácio do STF e de uma certa TV a cabo. Mas muitos outros recursos serão mobilizados. A guerra total está apenas começando.
O verdadeiro alvo de petistas e bolsonaristas é uma alternativa não-populista, ou seja, qualquer qualquer candidatura de uma via democrática que seja capaz de expressar a insatisfação difusa da sociedade brasileira com o petismo e o bolsonarismo.
(1) Segundo a IA do Google, essas são as características de uma Guerra Total:
Mobilização Total de Recursos:
Todos os recursos militares, económicos e sociais de um país são utilizados na guerra.
Destruição de Alvos Civis:
A distinção entre combatentes e não combatentes desaparece, tornando os civis e infraestruturas civis alvos legítimos para o inimigo.
Sem Restrições:
Não há limites para os meios ou objetivos da guerra, permitindo o uso de qualquer tipo de armamento e a total devastação.
Envolvimento Social:
Toda a sociedade é chamada a contribuir para o esforço de guerra, seja através da participação no combate, da produção industrial ou do apoio moral.