Publiquei neste ano vários artigos dizendo que Lula perderia as eleições de 2026 em condições normais. Ocorre que as condições estão se configurando totalmente anormais. Tanto pelas razões que apontei (a interferência do STF na política e o engajamento dos grandes meios de comunicação, sobretudo as TVs, na campanha antecipada Lula 2026), quanto por razões que não apontei (o ataque político de Trump ao governo brasileiro e as sanções, disfarçadas de tarifas, impostas ao Brasil).
Além disso, é preciso incluir: a instalação artificial, pelo governo, de um clima de guerra pobres contra ricos e a divisão promovida pela família Bolsonaro no campo antipetista (que ainda é majoritário no país, mas talvez por pouco tempo).
Nestas circunstâncias, a tendência é que Lula seja reeleito: embora isso não esteja certo, olhando-se desde agora parece o mais provável.
É inegável que a conjuntura brasileira está mudando em desfavor da democracia. Se é assim, os democratas (não populistas) devem urgentemente se preparar para o pior. Serão tratados, de roldão, como traidores da pátria, embora nada tenham a ver com o bolsonarismo.
Quem não estiver apoiando Lula será atacado, pela militância lulopetista, pela imprensa chapa-branca e por uma parte das instituições controladas pelo governo ou aliadas ao governo, como inimigo dos pobres, da soberania nacional e da democracia, traidor, trumpista, bolsonarista, golpista e fascista.
Não se sabe como a situação vai evoluir, mas é melhor já considerar que a resistência democrática começa agora. Essa resistência passa pela articulação de uma via democrática, a apresentação de um programa para o país e o lançamento de uma candidatura não-populista para 2026. Se esse movimento - recebendo os votos antipetistas de várias origens - vai crescer o bastante para disputar e vencer as próximas eleições, não se sabe. As circunstâncias são adversas, embora o desfecho esteja ainda aberto.
Derrotar o lulopetismo e o bolsonarismo não é impossível. E isso é para agora, para 2026, não para o futuro, para 2030. A questão é que se não trabalharmos hoje para fortalecer uma via democrática, ela não terá chances: nem em 2026, nem em 2030.
Os fatores Trump e famiglia Bolsonaro
Dois fatores - além dos já apontados anteriomente: o STF como poder moderador e a imprensa chapa-branca - pesam a favor da reeleição de Lula: o ataque de Trump e o familismo amoral dos Bolsonaro, que está dividindo o campo antipetista (a famiglia Bolsonaro impede qualquer candidatura do seu próprio campo eleitoral que não lhe seja servil).
Bem, em primeiro lugar cabe esclarecer que não são os Estados Unidos que estão atacando o Brasil. É o governo Trump - que está atacando a própria democracia americana e as democracias liberais mundo afora - que está ameaçando o governo brasileiro.
Lula, porém, reage instrumentalmente aos ataques do presidente dos EUA ensaiando uma patriotada para galvanizar as massas e acuar os setores não-petistas que o criticam na base do nacionalismo populista: quem vai ficar contra a defesa do Brasil diante do ataque de outro país? Mas o anti-imperialismo norte-americano do PT não tem a ver com o autoritário Trump. É uma desculpa solerte. Os petistas já tinham essa posição anti-americana quando os EUA eram governados pelos democratas Clinton, Obama e Biden. Agora revela apenas um alinhamento de Lula ao eixo autocrático.
De qualquer modo, para Lula, Trump caiu do ceu como um novo Bolsonaro. E como se dissesse: "Eu sou o salvador da soberania (contra Trump), assim como fui o salvador da democracia (contra Bolsonaro)".
É claro que Lula provocou Trump “cavando a falta” (embora a culpa pela agressão de Trump não seja de Lula e sim do próprio Trump: Lula só surfou na onda que ele mesmo queria que se avolumasse).
As sanções (disfarçadas de tarifas) de Trump ao Brasil estão tendo pelo menos um aspecto positivo para a democracia brasileira. Revelaram o familismo amoral dos Bolsonaro. Se a famiglia Bolsonaro não for descartada como alternativa é quase certo que Lula continuará no governo.
Chegamos enfim ao conceito. O bolsonarismo da famiglia bolsonaro é um caso típico de "familismo amoral". Candidatos de oposição devem abandonar o medo de perder votos e se desvencilhar imediatamente da família Bolsonaro. Lula, se for derrotado, não o será por Bolsonaro e sim pelo antipetismo.
Sim, o antipetismo ainda pode derrotar Lula se conseguir se desvencilhar do familismo amoral dos Bolsonaro - que não se importa de prejudicar o país para livrar seu líder da justiça. (Aliás, o comportamento da família Bolsonaro apresenta todos os ingredientes que dão origem às máfias. É hora de reler o livro de Edward Banfield (1958), The moral basis of a backward society).
Diante de tudo isso, os que têm um mínimo de discernimento e não querem a continuidade do governo do PT devem abandonar imediatamente a família Bolsonaro. É um imperativo.
Desde o valoroso concelho do suadoso Boechat, parei de votar há mais de 10 anos. Pago a multa e pronto. Nesse país em que a Democracia é uma fantasia, o melhor para nossa saúde mental é esquecer sempre que esses canalhas existem e cuidar apenas da nossa família. Esse país já era faz tempo!!!