A falta que fez o impeachment de Bolsonaro
O que os sul-coreanos fizeram hoje com o golpista Suk Yeol era o que deveríamos ter feito com Bolsonaro em 2021, logo após os crimes contra a saúde pública na pandemia e outros ataques à democracia.
No dia 27 de junho de 2020 publiquei no Facebook:
PARA DIZER QUE BOLSONARO MUDOU E AGORA VAI RESPEITAR A DEMOCRACIA
Bolsonaro mudou, como repete a imprensa? Bem, se ele vai mesmo mudar de comportamento, passando a respeitar a democracia, é necessário algumas atitudes concretas e não apenas dar um tempo em sua retórica autocrática. Sugere-se 11 medidas para começar:
1 – Parar de negar a gravidade da pandemia, de sabotar as medidas de distanciamento físico e de receitar remédios sem comprovação científica.
2 – Nomear um ministro da Saúde que entenda do assunto (devolvendo para a caserna o general Eduardo Pazuello e os outros oficiais que ele trouxe) e nunca mais tentar desacreditar ou falsificar os números de infectados e mortos.
3 – Parar de tentar interferir na Polícia Federal em benefício próprio e de sua família.
4 – Desativar seu sistema privado de informações (a tal Abin paralela).
5 – Revogar todas as medidas que visem armar a população com objetivos políticos (e desistir das propostas de armamentismo popular para fins de segurança pública).
6 – Demitir o integrantes do gabinete do ódio alocados no Planalto ou em qualquer lugar (Filipe, Célio, José Matheus, Mateus, Tércio etc.), o chefe da Secom, Fabio Wajngarten (que lhes dá cobertura) e cortar a interferência indevida de seus filhos – Carlos, Eduardo e Flávio – no governo.
7 – Demitir Ricardo Salles, o ministro Contra o Meio Ambiente.
8 – Demitir Damares Alves, a ministra Contra os Direitos Humanos e o Estado laico.
9 – Demitir Ernesto Araújo, o ministro Contra as Boas Relações Internacionais do Brasil.
10 – Demitir os olavistas que tomaram de assalto a área da Cultura.
11 – Desaparelhar a administração federal de milhares de militares que a ocuparam, devolvendo os da ativa para a caserna (de onde jamais deveriam ter saído) e reduzindo o número dos oficiais da reserva em cargos de comissão.
Para começar, estaria bom. Seria uma demonstração concreta de que Bolsonaro está mesmo mudando de comportamento.
Fim do post de 27/06/2020 no Facebook.
Publiquei então em Dagobah, no dia 20/01/2021, o seguinte artigo:
E AGORA?
Bem, ele (Bolsonaro) não tomou nem uma dessas 11 medidas. É a prova de que não mudou.
Vejamos:
1 – Continuou negando a gravidade da pandemia, sabotando as medidas de distanciamento físico e receitando remédios sem comprovação científica. Adicionalmente, começou a fazer uma campanha antivacina.
2 – Manteve o incompetente e truculento general Pazuello (e entourage) ocupando o ministério da Saúde para destruí-lo. Usou o ministério para recomendar remédios falsos para a Covid-19, atacou a vacina Coronavac (a única que temos), não tentou adquirir as demais vacinas em tempo hábil, não coordenou o combate nacional à pandemia (e deixou até faltar oxigênio, levando à morte muitas vidas de brasileiros). Como consequência, pulamos de 50 mil mortos em junho de 2020 para 211 mil mortos em janeiro de 2021. E crescendo…
3 – Continuou interferindo na Polícia Federal em benefício próprio, de sua facção e de sua família.
4 – Não apenas não desativou seu sistema privado de informações (a tal Abin paralela), mas usou a Abin, a Receita, o Coaf e a Polícia Federal para defender seu filho Flávio de múltiplas acusações de peculato, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
5 – Continuou tomando medidas para armar a população, não para objetivos de defesa pessoal (contra criminosos), mas para resistir aos poderes legalmente constituídos (como os governos estaduais) que não se alinham às suas orientações.
6 – Não demitiu os integrantes do gabinete do ódio alocados no Planalto ou em qualquer lugar (Filipe, Célio, José Matheus, Mateus, Tércio etc.), o chefe da Secom, Fabio Wajngarten (que lhes dá cobertura) e, sobretudo, não cortou a interferência indevida de seus filhos – Carlos, Eduardo e Flávio – no governo.
7 – Manteve Ricardo Salles, como ministro Contra o Meio Ambiente, levando o país a ser considerado um pária internacional na preservação do meio ambiente.
8 – Não demitiu Damares Alves, a ministra Contra os Direitos Humanos e o Estado laico.
9 – Manteve Ernesto Araújo como ministro Contra as Boas Relações Internacionais do Brasil, o que acarretou incidentes diplomáticos sérios com a China, com a Índia, com países Europeus, com consequências devastadores (agora que o país precisa de insumos para fazer vacinas que veem da China e da Índia). Além disso, com a derrota de Trump, tendo feito uma aposta única na sua reeleição, deixou toda a diplomacia brasileira pendurada na broxa.
10 – Não demitiu os olavistas que tomaram de assalto a área da Cultura.
11 – Não desaparelhou a administração federal de milhares de militares que a ocuparam, devolvendo os da ativa para a caserna (de onde jamais deveriam ter saído) e reduzindo o número dos oficiais da reserva em cargos de comissão. Pelo contrário, aumentou o número de oficiais da ativa e da reserva no governo em funções que deveriam ser civis.
E agora não adianta mais exigir que Bolsonaro faça o que foi sugerido. Inclusive porque ele deixou claro que não fará nada disso. Agora a única saída é o impeachment.
MAS É POSSÍVEL O IMPEACHMENT?
Muitos argumentam que o impeachment não é possível pois o centrão, que Bolsonaro alugou, tem votos suficientes na Câmara dos Deputados para barrar a aprovação de qualquer pedido de impeachment.
Sobre isso, entretanto, cabe considerar os seguintes pontos:
1 – Não haverá impeachment sem campanha pelo impeachment.
2 – Sim, é possível uma campanha do impeachment em condições de pandemia. Se a campanha eleitoral de 2020 foi possível, então também será possível a campanha do impeachment de 2021.
3 – A campanha do impeachment é como qualquer campanha. Tem como objetivo principal e inicial ganhar os votos que ainda faltam para que um pedido de impeachment seja aprovado pela Câmara (com 342 votos).
4 – Basicamente o que se pode fazer?
a) Artigos e entrevistas em todos os meios de comunicação e posts nas mídias sociais justificando o impeachment.
b) Monitoramento permanente da posição dos deputados (um site com carômetro e indicação dos deputados que são a favor, contra ou ainda sem posição sobre o impeachment).
c) Divulgação diária de um mapa do impeachment.
d) Avalanches de mensagens pessoais a cada deputado/a pedindo que ele/a aprove um pedido de impeachment quando for colocado em votação.
e) Debates e manifestações, virtuais e presenciais (com os cuidados sanitários necessários) sobre o tema nas instituições (OAB, CNBB, ABI etc.) e nas organizações da sociedade.
f) Propaganda paga pelo impeachment em rádio, TV, revistas e jornais (a partir de doações privadas, inclusive por crowdfunding).
g) Vídeos com depoimentos e filmetes de pessoas conhecidas (dos meios artísticos, culturais, científicos etc.) defendendo o impeachment como única solução para barrar as ações destrutivas do presidente.
h) Outdoors pelo impeachment nas cidades e panfletagem de casa em casa.
i) Manifestações de rua (em condições da pandemia): carreatas, buzinaços, panelaços diários nas janelas das casas e apartamentos, ocupações estáticas de praças com faixas e cartazes, mantendo-se amplo distanciamento (como foi feito em Israel e em outros lugares).
j) Depoimentos de líderes partidários e de organizações da sociedade civil explicando por que o impeachment é necessário.
k) Outras formas criativas que serão inventadas pelas pessoas.
5 – Atenção! A campanha do impeachment não serve apenas para aprovar um pedido de impeachment no Congresso. Ela é a única solução para barrar a trajetória insana de destruição do facínora que está da presidência.
6 – Se o impeachment não sair, a campanha será uma voz unificada de oposição que, pelo menos, vai diminuir o potencial destrutivo de Bolsonaro.
7 – Esperar 2022 sem fazer nada significa dar a Bolsonaro um crédito maldito de mais quase dois anos para que ele possa prosseguir destruindo: depredando a democracia e levando à morte milhares de pessoas.
8 – A campanha pelo impeachment tem de ser distribuída (não-centralizada) e tem de começar já.
P.S. 1 – Alguns políticos que alegam que não se pode fazer uma campanha pelo impeachment em 2021 por causa da pandemia não colocaram essa mesma objeção quando fizeram a sua campanha eleitoral em 2020 (em plena pandemia).
P.S. 2 – Não adianta pressionar o presidente da Câmara dos Deputados para que coloque em votação imediatamente um pedido de impeachment. Perderia. Só no bojo de uma campanha pelo impeachment a correlação de forças pode se alterar. Sem campanha, não há impeachment. A votação não é o início e sim o final do processo.
Com base nas considerações acima, uma rede de pessoas que se dedica à aprendizagem democrática lançou um site chamado Termômetro do Impeachment, que tem como objetivo gerar uma pressão democrática e pacífica sobre o Congresso Nacional em prol do impeachment do atual presidente da República. É preciso sensibilizar os deputados/as para que o impeachment de Jair Bolsonaro seja aprovado antes que seja tarde.
Fim do artigo publicado em Dagobah em 20/01/2021.
Considerações finais (de 14/12/2024)
Imaginem os dissabores de que teríamos poupado o país se tivesse havido (ou começado) um movimento pelo impeachment em 2021. No mínimo, as tentativas desastradas de golpe de 2022 não teriam ocorrido.
Bolsonaro colocou o Brasil em estado de golpe quando assumiu a presidência em 2019. Escrevi, na época, vários artigos mostrando isso. Mesmo assim, Lula e o PT não queriam aplicar o remédio constitucional adequado (o impeachment), para vencê-lo mais facilmente nas urnas.
O PT nem queria falar disso. Pelo contrário, Lula chegou a dizer, mais de uma vez, que não poderíamos pedir impeachment de Bolsonaro só porque não gostamos dele.
Na verdade, Lula e o PT temiam que, no bojo de um movimento popular pelo impeachment, surgissem novas lideranças que poderiam romper a bipolarização lulopetismo x bolsonarismo.
Deu no que deu.
Sorry Augusto de Franco, com todo respeito da vó-fessora sua fã desde sempre...
Penso que ao plantar uma árvore frutífera, qualquer que seja ela, temos que colher o "fruto" ainda maduro, e se for um "bom fruto" replantamos a semente
O Fruto que vem desta árvore chamada hoje de "Democracia Relativa" já "APODRECE" no próprio pé.
Quando os frutos caem apodrecidos, nenhuma das vacas dos sitiantes, querem chegar perto.
Tem uma música que diz assim:
Banana madura, na beira da estrada, está bichada Zé, ou tem marimbondo no pé.
"Banania" está bichada, e com enxames de marimbondos de Norte a Sul.
Alguém já viu uma colmeia ir embora?
Por aqui ela só sai se um especialista a tirar da árvore.
No Brasil "nós os especialistas", falamos muito e deixamos as abelhas nos comerem vivos.
Ou só eu vou no supermercado?
Sim.