Vamos decifrar.
Hamas aceitou não participar de um novo governo de Gaza, mas reiterou que não vai depor as armas, mesmo com a garantia de seus militantes receberem anistia e poderem se retirar e voltar a Gaza a qualquer momento que quiserem. Para que então o Hamas quer continuar armado?
Os apoiadores do Hamas mundo afora - a turma que prega “Palestina livre do rio ao mar” - parecem não estar muito contentes com o acordo que está sendo costurado, não estão nem comemorando o cessar-fogo com a troca de reféns israelenses por prisioneiros da organização terrorista.
São mais evidências de que a guerra do Hamas não é em Gaza e, a rigor, não é nem do Hamas. É parte da guerra do Irã para aniquilar Israel.
Mas é mais do que isso: é uma espoleta da netwar - neste caso com a globalização da Intifada - que vai se instalando nas sociedades do mundo inteiro, movida pelo eixo autocrático contra as democracias liberais.
A netwar é uma guerra que atravessa todas as fronteiras e se instala nas sociedades nacionais, sobretudo das democracias, para polarizá-las e dividí-las. A palavra ‘net’ significa rede (pessoas interagindo por qualquer mídia) e não apenas, nem principalmente, mídias sociais. Não é sinônimo de ciberguerra. Não é só uma guerra pela internet, embora também o seja.
A netwar é a nova forma de guerra do século 21. Uma guerra fria alimentada com eventos localizados de guerra quente. Gaza está sendo um dos principais alimentadores.
Guerra fria é guerra. Há hoje no mundo uma segunda guerra fria que não é um repeteco da primeira - é outra coisa: não são dois blocos mais ou menos monolíticos se enfrentando, tipo URSS x EUA e aliados ocidentais nos anos 1960-1980. Não é que agora a China ocupará o lugar da União Soviética. Há um eixo autocrático composto pelas maiores ditaduras do planeta: Rússia, China, Coreia do Norte, Vietnam, Laos, Bielorrússia, países do “findomundistão” asiático e africano, Venezuela, Nicarágua, Cuba, Irã (e seus braços terroristas: Hamas, Hezbollah, Houthis, Jihad Islâmica e mais uma dezena de organizações no Iraque, na Síria, na Cisjordânia e em quase todos os países do Oriente Médio, coordenados pela IRGC), em campanha de exterminação das democracias liberais. Por isso, para a paz no Oriente Médio não basta desarmar e excluir o Hamas da governança de Gaza e da Cisjordânia. É necessário desmantelar o IRGC - Corpo de Guardas da Revolução Islâmica do Irã: سپاه پاسداران انقلاب اسلامی (uma espécie de SS dos tempos atuais).
A segunda guerra fria já é a terceira guerra mundial, que não é um repeteco da primeira ou da segunda guerras mundiais - é outra coisa: ao que tudo indica não haverá mais guerras generalizadas como a de 1914-1918 e a de 1939-1945. A terceira guerra mundial é uma guerra em rede, instalada na sociedade-em-rede na qual já vivemos.