A guerra quer matar a rede
Mauai Mauro Henrique Toledo, Inteligência Democrática (22/08/2024)
Triste é perceber a enorme dificuldade de muitas pessoas em aceitar o outro diferente na convivência diária. Pode ser mais fácil conviver com as diferenças, convergir nas adversidades e aprender juntos. Pode ser mais fácil criar soluções e realidades afetivas e sociais em paz, de forma inteligente e humanizante.
Mas infelizmente parece haver um programa de guerra rodando na cabeça das pessoas em nossa cultura competitiva.
Um software guerreiro roda na mente coletiva. É o desejo de eliminar quem pensa, vive e sente diferente. O diferente não é aceito como um legítimo outro na convivência. É a dinâmica da guerra. Separação e discriminação.
Retórica de destruição. Retórica é ação e quem fala de guerra, cria guerra. E líderes com tamanha visibilidade influenciam muita gente com sua retórica. São líderes que estimulam o emocionar de ódio. Sabem que a guerra mata a confiança das pessoas nas pessoas. São líderes de alimentam seguidores de ódio, formam ressentidos. É assim que esses líderes detêm e mantêm o poder, crirando e mantendo inimigos, manipulando mentes e emoções com estímulos e retórica de guerra.
A guerra mata a rede. Mata nossa relação com outros, matando a humanidade do nosso conviver e compartilhar da existência fraterna.
Quando a política é entendida como uma questão de lado versus lado e não como uma questão de modo (modo pacífico de resolução de conflitos), os comportamentos agressivos tendem a aumentar.
O programa da guerra roda fácil. Separar, fragmentar, dividir. Criar e manter inimigos para justificar argumentos e atitudes guerreiras, de poder e hegemonia.
Curiosamente a palavra “militantes” vem da guerra. "Campanha", “estratégia”, “tática”, conceitos de guerra que também são aplicados à competição comercial. Claro que o mercado e os negócios, produtos e serviços devem ser competitivos, mas o emocionar da interação entre as pessoas na sociedade não precisa ser guerreira.
Precisamos de confiança.
Pesquisas sérias já provam que uma sociedade cooperativa estimula o desenvolvimento de melhores ambientes de negócios. Temos que elevar o índice de confiança das pessoas nas pessoas. A confiança é um emocionar saudável para todos, mercado e sociedade.
Quando o emocionar que move o ser humano é de guerra até a enxada usada para plantar, colher e compartilhar vira arma.
É urgente desativar o programa interno da guerra que roda nas cabeças, emoções e comportamentos. Criando e mantendo inimigos seremos movidos pelo emocionar da separação, da desunião, da culpabilização e da vitimização.
Em guerra (fria ou quente) seremos sempre miseráveis de autoestima, de autoconfiança e de amor próprio. Falo do amor não apenas no sentido romântico. Amplio o entendimento do amor como acolhimento do legítimo outro na convivência fraterna e pacífica.
Chega de guerra. Emocionares novos podem ser construídos. Emoções saudáveis compartilhadas melhoram nossa saúde física e emocional. Podemos mudar nossos comportamentos e cocriar emoções de colaboração, de paz, de cooperação.
Vamos promover ambientes onde haja respeito, fraternidade e busca de soluções inteligentes para tantos problemas que temos.
Viver e conviver em paz é uma responsabilidade de todos nós. Comportamentos mudam comportamentos.