A lição da Venezuela para o Brasil
Augusto de Franco, 98live (28/07/2024)
Os ditadores Maduro e Cabello (do PSUV), seguindo o exemplo de Putin, tendem a ficar no poder até meados da década de 30 e além.
A não ser em condições excepcionalíssimas (como no caso de dissensões internas), ditadores e também populistas que parasitam regimes eleitorais, não costumam sair do poder apenas pelo voto.
Isso vale para ditadores e populistas ditos de direita e de esquerda.
Orbán saiu? Não, foi reeleito. Erdogan saiu? Não, foi reeleito. Modi saiu? Não, foi reeleito. Putin saiu? Não, foi reeleito. À direita, Trump é a única exceção, mas deslegitimou a vitória de Biden e agora está a um passo de voltar à Casa Branca.
Ortega saiu? Não, foi reeleito n vezes. Chávez e Maduro sairam? Não, um morreu e o outro, seu sucessor, foi reeleito n vezes (inclusive ontem, com fraude). Correa saiu? Não, emplacou seu sucessor Moreno. Evo saiu? Não, foi reeleito n vezes até que sofreu um contra-golpe em resposta à sua tentativa de auto-golpe. Zelaya saiu? Não, foi preso e, depois, elegeu sua mulher Xiomara. Lula e Dilma sairam? Não, Lula fez sua sucessora Dilma, que sofreu impeachment e depois voltou ao governo pelo voto. Lugo saiu? Não, sofreu impeachment. Funes saiu? Não, fez seu sucessor, Salvador Cerén, da mesma Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. À esquerda, Cerén (El Salvador) é a única exceção (já que Cristina não conta ao não ter conseguido emplacar Scioli seu sucessor, pois estava em transição do velho populismo peronista para o neopopulismo contemporâneo).
Com as exceções, mencionadas acima, que confirmam a regra, nenhum partido que abrigava esses populistas saiu do governo apenas pelo voto.
Isso deveria servir de aviso. Não existe populista democrata liberal. Votar num populista democrata eleitoral para tirar do governo um populista autocrata eleitoral pode até ser necessário. O problema é, depois, tirar o seu partido do governo. É o problema que enfrentamos no Brasil. Se não houver um amplo movimento de repúdio ao neopopulismo lulopetista, o PT continuará no governo até meados da década de 30 e além.
Repetindo. Não existem populistas democratas liberais. Existem populistas democratas eleitorais (Chávez, Evo, Correa, Lugo, Funes, Lula, Cristina, Xiomara, Petro, Obrador). E existem populistas autocratas eleitorais (Orbán, Erdogan, Putin, Modi, Bolsonaro, Maduro, Ortega).
Pois bem. Ontem (28/07) o ditador Maduro fraudou mais uma eleição na Venezuela para continuar no poder. Não houve um golpe de mão de ocasião. Já está tendo, durante mais de 20 anos.
Mas depois da fraude de ontem - e até agora - os ditadores Bashar al-Assad (o genocida da Síria), Putin (o carniceiro da Rússia) e Ali Khamenei (o teocrata do Irã), além de Canel (Cuba), Ortega (Nicarágua) e os populistas Arce (Bolívia) e Xiomara (Honduras) já validaram a fraude de Maduro.
Em outras palavras, quem "venceu" as eleições ontem na Venezuela? Todos os ditadores (como Putin, Jinping, Khamenei) e os populistas de esquerda (como Morales e Correa, que até anteciparam, ainda durante a votação, o resultado da fraude). Infelizmente também Lula, que enviou seu chanceler de fato para legitimar a patifaria.
Para resumir, aconteceu uma eleição russa ontem na Venezuela. Maduro fez a mesma coisa que faz Putin. Impede seus opositores de concorrer. Estrangula liberdades civis e viola direitos políticos. A fraude não ocorre apenas na apuração do pleito. É um estado de fraude permanente, durante décadas.
Qual a lição para o Brasil?
Se não houver um amplo movimento democrático de repúdio ao neopopulismo lulopetista, o PT continuará no governo até meados da década de 30 e além. E fará isso imitando seus aliados Putin, Maduro, Ortega, Evo e Arce, Zelaya e Xiomara, Petro etc. Mas um movimento desse tipo não se articulará enquanto houver um deficit tão acentuado de agentes democráticos na sociedade brasileira. O que exige ampliar e multiplicar iniciativas práticas de aprendizagem da democracia. Não adianta apenas sacar da cartola candidatos populares em cima da hora, às vésperas das eleições. Eleições são decisivas e delas os democratas devem sempre participar, mas se reduzirmos democracia à eleições, não haverá saída.