A tese do "golpe continuado"

O populismo de esquerda chamado lulopetismo está querendo consagrar a data de 8 de janeiro como efeméride do golpe de Estado do populismo de direita chamado bolsonarismo. Mais do que isso, porém. Está querendo dizer que o 8 de janeiro não acabou e que a conspiração golpista continua ativa para um novo desfecho nas urnas de outubro de 2026. Isso é uma falsificação, como mostram os oito pontos abaixo.

1 - Qualquer pessoa com um mínimo de honestidade sabe que não houve golpe nenhum em 8 de janeiro de 2023.

2 - Houve, sim, articulação para um golpe no final de 2022, tentativa que não se concretizou por falta de força político-militar dos golpistas - Bolsonaro e seus comparsas militares e civis - para tanto.

3 - Frustrados diante dessa impotência, manifestantes inconformados, com intenções claramente golpistas, depredaram as sedes dos três poderes em 8 de janeiro de 2023, num último recurso desesperado para tentar provocar uma intervenção militar, supostamente para impor a ordem autoritária que desejavam. Isso, porém, não aconteceu.

4 - Nem os golpistas do final do final de 2022, entretanto, chegaram a dar um golpe que fracassou. Quiseram dar, por certo, mas não conseguiram e tiveram de abortar a tentativa.

5 - Se tivessem conseguido, nada indica que o golpe - sem apoio internacional, sem apoio do congresso e dos demais poderes e sem apoio da população - teria se sustentado por tempo suficiente para transformar a democracia brasileira em uma ditadura. Pode ser que sim, pode ser que não (mais provavelmente).

6 - A tentativa de golpe não consumado deve, entretanto, ser punida pelo Estado democrático de direito (como, de fato, está sendo).

7 - Feito isso, não se pode aplicar o golpe de dizer que a tentativa de golpe continua em curso enquanto os antigos apoiadores dos golpistas tiverem chances eleitorais. Não havendo violação das leis, não existe “golpe eleitoral” em democracias. Pessoas com intenções golpistas, passadas ou presentes, que não levarem à prática essas intenções, se disputarem eleições e forem eleitas, devem ser consideradas representantes legítimos da população.

8 - Em suma, a tese solerte de que há um “golpe continuado” é uma construção antidemocrática delirante, um golpe baixo na democracia. Não há condições objetivas ou subjetivas para um golpe de Estado no Brasil, nos curto e médio prazos.