A Venezuela como exemplo
Gilberto Natalini, Inteligência Democrática (07/08/2024)
Como é sabido, as ideologias como as conhecíamos, morreram.
Aquela divisão “direita” e “esquerda”, socialismo e capitalismo, que tanto prevaleceram no século passado, ficaram no passado.
Com o debacle do chamado bloco socialista, liderados pela União Soviética, que culminou com a queda do muro de Berlim, uma nova ordem mundial se impôs, com a predominância absoluta do capitalismo.
Mas, também, as relações sociais, e organização das classes sociais são outros. O chão de fábrica, onde estavam os operários se transformaram pela força da tecnologia e da inovação, fazendo com que milhares de pessoas mudassem para um trabalho de serviços, muitas vezes feito de dentro da própria casa.
Apesar dos imensos avanços no modo de produção, que se multiplicam demais, apesar da enorme produção e renda global só aumentar, apesar da qualidade de vida melhorar muito, a desigualdade e a exclusão social só aumentaram nesses últimos tempos.
A fome e a sede assolaram bilhões de pessoas de várias partes do mundo e as doenças transmissíveis matam milhões de desassistidos.
Poucos grupos econômicos detém a riqueza da metade da humanidade.
Acrescente-se a isso, a degradação do Planeta e o aquecimento global, produzidos pela exploração predatória dos recursos naturais.
Do chamado bloco socialista só ficou o nome. Se transformaram em capitalismos de estado e em ditaduras cruéis de Partido único e governos tiranos.
O exemplo mais emblemático é a China, esse gigante do capitalismo de Estado e do autoritarismo mundial.
Dessa maneira, com essa nova realidade, somado o advento da internet, das redes sociais, da inteligência artificial, da biotecnologia, o mundo se apresenta com outros desafios, para enfrentar os mesmos problemas de sempre: a defesa da liberdade e da equidade social. Agora acrescidos com a preservação ambiental.
Com a “morte das ideologias”, tal como eram conhecidas, os sonhos e utopias também sofreram um abalo.
Sem sonhos e utopias a vida humana perde seu sentido maior.
Assim, com a liberdade ameaçada pela crise das democracias e o avanço das autocracias, com a sobrevivência pessoal dificultada pelo aumento da desigualdade social, com a vida ameaçada pelos danos ambientais, com a ética ameaçada pelo império do dinheiro e do crime, a humanidade segue se debatendo à procura do seu rumo.
No mundo do poder político, a Venezuela é quase uma fotografia dessa realidade.
Um país sentado sobre uma fortuna de petróleo, tomado por um governo populista, corrupto e ditatorial, que domina o país há 25 anos, com o discurso do “socialismo”, e com uma prática terrível de autoritarismo, de concentração de renda, de institucionalização do narco poder.
A Venezuela, viu nesse período, 25% (8 milhões de pessoas) do seu povo sair de lá, fugindo da “revolução bolivariana”. Os dados mostram que mais de 80% dos venezuelanos estão na linha de pobreza, e a criminalidade explodiu no país.
Segundo os dados, cerca de 9 mil pessoas da oposição foram mortas por ação do governo.
O ápice disso tudo foi agora nas eleições.
Os números dizem que a oposição ao ditador Maduro teve 70% dos votos e o apoio massivo dos venezuelanos.
Mas, Maduro e sua “comissão eleitoral” se autoproclamaram vencedores e vão insistir em ficar.
Ele teve o reconhecimento imediato dos governos autoritários do mundo, como China, Rússia e outros.
A sequência vai depender da insistência do povo de lá, e da posição da comunidade internacional.
Assim, a Venezuela é um triste exemplo dos novos paradigmas que se colocam, para avançar na democracia, na sustentabilidade ambiental, na equidade social e na moralidade pública.
Acredito que muitos de nós pensávamos num mundo melhor, mas esse mundo melhor é utópico. A ganância, a arrogância e a prepotência dos líderes dos países confundem a mente da população, levando muitos a acreditar que alguma coisa boa pode acontecer nos países do terceiro mundo. Cada vez mais aumentam a pobreza e a desigualdade social. Eu pensava que, com meu esforço e dedicação poderíamos viver num mundo melhor, mas o que eu percebo é que não basta o nosso esforço individual, é necessário que o Estado faça a parte dele também. Por aqui a taxação é a melhor opção do governo de se manter no poder e dane-se os outros. O socialismo que eles praticam é entre eles mesmos.