A via hondurenha
Observem atentamente o que está acontecendo em Honduras
Centenas de militantes petistas (cerca de 800 até agora) vieram no X comentar um tweet no qual eu dizia que o PT não aceitaria de bom grado perder as eleições de 2026 e que, se concluísse que perderia, tentaria melar o jogo. Me acusaram de bolsonarista e argumentaram que o PT já perdeu várias vezes e aceitou o resultado das urnas.
Nada disso é verdade. Em primeiro lugar denuncio o bolsonarismo (o populismo-autoritário dito de extrema-direita) desde que surgiu. Basta ler meus artigos na grande imprensa, nesta revista Inteligência Democrática, no site Dagobah e nas mídias sociais.
Em segundo lugar, reafirmo o que disse. Estando no governo (federal) o PT nunca saiu pelo voto (Dilma, como se sabe, saiu por impeachment). Partidos de populistas de esquerda (como o PT de Lula), estando no governo central, dificilmente saem pelo voto.
Vejamos. O partido de Daniel Ortega, na Nicarágua, não saiu: ele foi reeleito n vezes. O partido Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela, não saiu: o primeiro faleceu e o segundo, seu sucessor, foi reeleito n vezes. O partido de Rafael Correa, no Equador, não saiu: ele foi reeleito e emplacou seu sucessor Lenin Moreno. O partido de Evo Morales, na Bolívia, não saiu: ele foi reeleito n vezes até que sofreu um contra-golpe parlamentar em reação à sua tentativa de auto-golpe e, depois, elegeu seu sucessor Luis Arce (do mesmo MAS - Movimento ao Socialismo) com o qual se desentendeu. O partido de Manuel Zelaya, em Honduras, não saiu: ele foi preso (ficou até refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa), mas em seguida elegeu sua mulher Xiomara Castro. O partido de Lula e Dilma Rousseff, no Brasil, não saiu: Lula foi reeleito e fez sua sucessora Dilma, que sofreu impeachment. O partido de Fernando Lugo, no Paraguai, não saiu: ele sofreu impeachment. O partido de Maurício Funes, em El Salvador, não saiu: ele fez seu sucessor, Salvador Cerén, da mesma Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional.
Há exceções, claro, que confirmam a regra: Salvador Cerén em El Salvador, Cristina Kirchner na Argentina e e o partido MAS, de Evo Morales e Luis Arce, na Bolívia.
Em terceiro lugar, não disse que o PT daria um golpe de Estado e sim que tentaria melar o jogo. Há muitas maneiras de fazer isso. Por exemplo, o partido de Xiomara Castro, em Honduras, que acaba de perder a eleição, tentou (e continua tentando) melar o jogo (dificultando o processo de votação, atrasando a contagem dos votos e declarando não aceitar o resultado do pleito). A estratégia do PT nunca foi dar golpe de Estado e sim conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido para se delongar no governo, ganhando tempo para alterar, por dentro, o DNA da democracia, substituindo-a por cidadania ofertada pelo líder populista.
Golpe de Estado, portanto, não é a única maneira de tentar destruir a democracia. A maior parte dos processos de autocratização não ocorre mais por golpes de Estado e sim por erosão democrática. O hegemonismo é tão avesso à democracia liberal quanto o golpismo.
O caso atual de Honduras, entretanto, é paradigmático. O presidente do Congresso Nacional de Honduras, Luis Redondo, ligado ao governo de Xiomara Castro, populista de esquerda e mulher de Manoel Zelaya (ambos aliados de Lula e do PT, e também de Maduro, de Ortega, de Obrador e Cláudia, de Canel, de Petro, de Evo e Arce - para não falar de Putin, Xi e Khamenei), afirmou na última quarta feira (10/12/2025) que não vai validar o resultado das eleições presidenciais em que a candidata governista (Rixi Moncada, na foto) ficou em terceiro lugar. Redondo denunciou um golpe eleitoral no pleito, ecoando uma fala da presidente Xiomara e sua candidata perdedora Moncada. Avisei com antecedência (no dia 1 de dezembro) que isso poderia acontecer. É bom anotar essa alegação de “golpe eleitoral”.
Pessoas com dificuldades cognitivas não entenderam; e outras, instrumentalizadas para praticar a política como guerra do bem contra o mal, fingiram que não entenderam. Não é que o PT vai dar um golpe de Estado se perder a eleição. É que ele vai acusar quem ganhou de ter dado um “golpe eleitoral”. E isso significa deslegitimar o processo.
Se o PT perder em 2026 acusará também (como está fazendo a esquerda populista hondurenha) um “golpe eleitoral”? Já está fazendo isso. Qualquer medida legislativa que contraria seus interesses ele chama de “golpe parlamentar” (aliás, até o impeachment de Dilma, presidido pelo camarada Lewandowski, o PT chamou de “golpe parlamentar”).
Tudo que contraria o seu projeto de poder é denunciado pelo PT como golpe. No passado, muito antes da intentona bolsonarista de 2022, quem eram os golpistas? Os que condenaram os principais dirigentes do PT pelo mensalão e pelo petrolão, os senadores que aprovaram o impeachment da Dilma, os procuradores e juízes que acusaram, condenaram e prenderam Lula por corrupção.
E agora, quem são os golpistas? Os parlamentares que aprovam matérias legislativas contra os interesses do PT.
E no futuro, quem serão os golpistas? Ora, os que disputarem a presidência contra Lula em 2026 e os que votarem neles.
Cuidado com a via hondurenha. Se Lula não for reeleito, as eleições de 2026 tendem a ser deslegitimadas pelo PT.




Um dos casos mais eloquentes é o último (falso) processo eleitoral na Venezuela, em que a oposição venceu com mais de 70 por cento, o resultado foi desprezado sumariamente e Maduro continua no poder, obrigando a oposição vencedora a fugir do país, sob risco de prisão ou morte A série “Jack Ryan”, com John Krasinski como protagonista, retrata com perfeição os absurdos e ataques à democracia que ocorrem reiteradamente naquele país, de onde já fugiram 7 milhões de pessoas.
Creio que o STE pode invalidar uma chapa vencedora de oposição baseada em argumentos bizarros.