Notaram? Lula (e o PT) no governo (desde o início do século, a partir de 2003 com uma interrupção entre 2016 e 2022) se comporta como se fosse oposição. É um absurdo o que está acontecendo na saúde - diz ele à imprensa. É inaceitável nossa desigualdade socioeconômica - repete nos palanques. Qual é o subtexto? Isso só mudará quando estivermos no poder.
Mas é preciso ver o que Lula e o PT consideram ‘estar no poder’. É quando conquistarem hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido para se delongar no governo até fazer maioria em todas as instituições, criando condições para alterar “por dentro” o “DNA” da democracia, trocando-a então por cidadania ofertada pelo líder populista. Sempre a partir do Estado (estando este, é claro, “nas mãos certas”). Essa é a operação hegemonista. Por isso precisavam de mais 12 anos no governo, como disse o Zé Dirceu. Para completar o serviço interrompido pelo impeachment de Dilma.
Grande parte da chamada imprensa não questiona nada disso. Ou porque está alinhada ao governo. Ou porque, simplesmente, não descobriu nada disso. Há mais ou menos sete anos só fala do perigo bolsonarista. Nos últimos dias deu para falar da vitória de Lula e do PT ao derrotar o bolsonarismo. Mas não está falando propriamente de uma vitória política em 2025 e sim de uma vitória eleitoral em 2026 antecipada.
É uma conversa para enganar trouxas. A de que a bancarrota da famiglia Bolsonaro e de seus fieis seguidores é uma vitória de Lula e do PT. Não é. Do ponto de vista político (em 2025) - e não eleitotal antecipada (de 2026) - é uma vitória da democracia.
A oposição democrática no Brasil não é representada pelo bolsonarismo e sim pelos que não aceitam os populismos que polarizam o cenário político nacional. Os democratas não populistas mantêm seu velho lema: nem Lula, nem Bolsonaro. Sabem que os antigos votos antipetistas de Bolsonaro não são, em sua maior parte, bolsonaristas. E sabem que os antigos votos antibolsonaristas de Lula não são, em boa parte (a melhor parte), lulopetistas.
O fato de o bolsonarismo estar sendo miseravelmente derrotado pelos seus próprios erros deve ser comemorado pelos democratas. Não é uma vitória do governo atual, de Lula e do PT, e sim dos democratas não-populistas que se opõem tanto ao bolsonarismo quanto ao lulopetismo. Derrotada a famiglia Bolsonaro, resta agora impedir a quarta eleição de Lula (e a sexta do PT neste século). A democracia brasileira precisa de rotatividade ou alternância democrática.
Isso, entretanto, está ficando cada dia mais difícil. Cristalizaram-se mais ainda as posições ideológicas do lulopetismo e do bolsonarismo-raiz (aquela fração dos súditos fieis da famiglia Bolsonaro). Parte do centro político está se deslocando para apoiar a reeleição de Lula no primeiro turno, aceitando novamente a farsa da frente ampla. Farsa porque, como em 2022, é uma falsa frente ampla.
Bolsonaro nunca foi problema para Lula: foi a solução. Foi o bicho-papão necessário para capturar o centro político. Agora a falta de Bolsonaro será um problema a ser resolvido pelo triunfo eleitoral antecipado de Lula.
Com efeito, o lulopetismo quer apenas que Lula seja mais uma vez reconduzido ao cargo, mas dessa vez por aclamação. No primeiro turno, pois no segundo pode complicar. O bolsonarismo-raiz sabe disso e prefere que Lula seja reeleito em 2026 para liderar uma resistência-desgastante até 2030, mantendo viva a máfia familiar na esperança de retornar pisando em escombros. Não vai acontecer.
Se um movimento surpreendente, correndo por fora, não quebrar essa trajetória é isso o que teremos. E os democratas (não-populistas) têm pouco tempo: até o final deste ano, no máximo início do próximo ano, essa linha temporal futura estará selecionada dentre as demais.
Fique claro. Em condições normais Lula perderia a eleição. Mas depois dos ataques de Trump, dos desatinos suicidas de Eduardo Bolsonaro et caterva, dos tiros no pé do chamado “centrão”, da atuação do STF e das TVs chapa-branca como partidos políticos informais, não estamos mais em condições normais.
O que estou dizendo, em outras palavras, é o seguinte: se os democratas ficarem esperando até abril de 2026, já era.
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Concordo plenamente com o texto. E, infelizmente, se surgir alguma candidatura fora do lulobolsonarismo, terá pouca chance de vencer as eleições de 26. A sociedade brasileira em sua grande maioria cai facilmente nos contos dos populistas e não enxerga bem as tramas da Corte nos bastidores, que nada tem a ver com eles. Os candidatos dessa Corte só cairão após a falência econômica de sua própria gestão. Como aconteceu com a Dilma. E o país, na época, teve um azar imenso ao ter o Bolsonaro eleito. Nada mudou. E continuamos nesse pesadelo que já dura décadas.
Análise correta! É inacreditável que um ladrão contumaz e pernicioso para a democracia acabe sendo ungido como democrata e, como está dito no artigo, praticamente reeleito ad eternum. Vamos lembrar que quando alguém ameaçou a hegemonia petista, seja na campanha de Dilma quanto na de José Serra, os filhos das putas do PT se encarregaram de implodir os candidatos Marina Silva (arghhh) e Serra. A assessora vitalícia do PT, Monica Bergamo, chegou a inventar um aborto de Mônica Serra, que nunca existiu. Vou lembrar alguns desses assessores do PT:
Monica Bergamo, Eliane Cantanhede, Basília Rodrigues, José Trajano, Juca Kfouri, Kennedy Alencar, Luis Nassif, Daniela Lima, Hildegard Angel, Cynara Menezes, Emir Sader, Palmério Dória, Xico Sá (arghhh), Josimar Melo, Bel Coelho... vamos combinar que tem pouca gente que bate no PT pelo que ele tem de pior, a falta de ética, a roubalheira institucionalizada, o total aparelhamento da máquina pública (que virou máquina púbica), a compra do congresso, do judiciário e, pior, dos eleitores com um sem número de programas caça-votos. Lula quer ser reeleito de forma vitalícia, para não haver ninguém que ameace a atuação e a hegemonia da quadrilha.