Alguns aspectos sobre a liberdade
Bruno Fernando Riffel, Inteligência Democrática (30/10/2024)
A libertação ocorre após um rugido primal, em que a garganta ferve, o peito se expande e o grito explode cru, sem censura ou explicações. Quando autônoma, é insubordinada, rebelde e visceral. Liberta o homem de algo, mas não o torna necessariamente livre.
Ao contrário da libertação, que é um rompimento, a liberdade é uma construção — um processo de expansão do ser. Para ouvi-la, é preciso silenciar o ruído da dúvida e do apego. Em nossa busca por liberdade, entramos na multidão para nos modificarmos com os outros. Para isso, desatamos nós internos, abandonamos medos e expectativas para que, na renúncia ao controle e à ordem imposta, encontremos o verdadeiro sentido da existência.
É um processo infinito, uma jornada contínua de escolhas, renúncias e descobertas, que nos leva a entender o que somos e o que podemos ser. É permitir-se ser vento, e não pedra — fluir, mudar de direção, aceitar a impermanência. É redescobrir o universo através de um olhar infantil, ingênuo e inventivo. É a vida sem imposições e a capacidade de pensar e expressar-se com os olhos e a mente desformatados.
Tentar ser livre é a melhor razão para viver. Buscar a liberdade nos impulsiona a dizer "sim" ao que nos faz vibrar e "não" ao que nos diminui. É lançar-se no fluxo, permitindo-se dançar no caos e até ir contra a corrente. É não ser orientado ou predestinado. É experimentar e buscar alternativas.
A liberdade se alicerça no passado e no futuro abertos, na resolução pacífica de conflitos, na aposta na auto-organização e nas descobertas decorrentes da livre interação. Quem a busca sabe que correrá riscos, perderá certezas e errará. Ela inclui desconstruir estruturas hierárquicas e viver com a responsabilidade de não prejudicar ninguém.
Está no vazio entre os segundos — bem ali, onde se encontra a eternidade. É ela, como sentido da política, que nos faz interagir com eficácia. Infelizmente, a maioria dos humanos não a conheceu e tende a não a conhecer.
A liberdade flui por entre os gestos que a alma inventa, a arte e o pulsar do universo que corre pelas veias de quem age sem estar sujeito a obrigações impostas.