As tentativas de golpe na Coreia do Sul e no Brasil
Rolando nas redes inevitáveis e às vezes mal-intencionadas comparações entre as tentativas de golpe na Coreia do Sul (2024) e no Brasil (2022). Vamos esclarecer.
1 - A Coreia do Sul é uma democracia liberal (uma das três - sim, são só três - da Ásia, juntamente com Taiwan e Japão), tem uma sociedade civil forte, um mercado integrado ao mundo e uma renda per capita alta (54 K US$ PPP), um IDH alto (0,92) e um índice de democracia (Democracy Index da The Economist Intelligence Unit) de 8,09 (vigésimo segundo lugar no ranking).
2 - O Brasil é um regime eleitoral não-autoritário, porém não-liberal (parasitado por populismos), classificado pelo V-Dem como democracia apenas eleitoral e pela The Economist Intelligence Unit (EIU) como democracia defeituosa (não-plena), tem uma sociedade civil esgarçada pela polarização entre dois populismos, uma economia fechada, uma renda per capita relativamente baixa (20,5 K US$ PPP), um IDH sofrível (0,76) e um índice de democracia (DI EIU) de 6,68 (quinquagésimo primeiro lugar no ranking).
3 - Na Coreia do Sul houve uma tentativa de golpe (auto-golpe) que - ao que tudo indica até agora - fracassou diante da resistência do parlamento, da sociedade e dos setores produtivos.
4 - No Brasil houve uma tentativa de golpe que nem chegou a fracassar diante de qualquer resistência ativa, mas desmilinguiu por dentro em razão do despreparo estratégico e tático dos golpistas e da não adesão da maioria dos comandos militares, provando que o governo anterior não tinha força político-militar para dar um golpe à moda antiga.
Manifestantes protestam em 4 de dezembro de 2024 em Seul, Coreia do Sul. (Foto de Chung Sung-Jun/Getty Images).
A democracia não é a luz de um holofote e sim a de miríades de pequenas velas.