Thiago Padovan e Nilton Lessa, Projeto Villa (01/07/2024)
Nos últimos tempos, uma pergunta importante tem surgido por aqui: por que muitos empresários, empreendedores e investidores estão apostando contra sua própria sobrevivência? A resposta a essa questão é fundamental para entender os riscos que nosso ambiente de negócios enfrenta atualmente.
Democracia como alicerce dos negócios
O mundo dos negócios que conhecemos foi construído sobre os alicerces promovidos pela democracia. Este sistema nos proporcionou estabilidade, previsibilidade, transparência, respeito à propriedade privada e direito à defesa jurídica. São essas conquistas que permitiram o florescimento do empreendedorismo, atraindo investimentos e fomentando o crescimento econômico.
Empresários, empreendedores e investidores sempre buscaram um ambiente seguro e previsível para realizar suas atividades. No entanto, um fenômeno contraditório tem emergido: vemos esses mesmos atores apoiando candidatos e grupos políticos que promovem o caos, a imprevisibilidade e a mentira como método. Mais preocupante ainda, há uma crescente aproximação com regimes que não respeitam os valores fundamentais que sustentam nossas liberdades e direitos.
O papel das vozes críticas
Felizmente, há vozes no cenário atual que se levantam contra essa tendência. São líderes e pensadores que alertam sobre os perigos de minar os pilares democráticos que sustentam nosso ambiente de negócios. Eles nos lembram que, sem esses fundamentos, a estabilidade necessária para a prosperidade se desintegra, colocando em risco tudo o que foi conquistado.
Reid Hoffman, co-fundador do LinkedIn, expressou preocupações sobre as políticas de Donald Trump, destacando o risco de retaliações contra empresas que se opõem a ele. Em uma entrevista recente, Hoffman foi questionado se estava preocupado com represálias por parte de Trump, evidenciando a tensão entre o mundo corporativo e a administração Trump.
Além disso, recentemente, 16 economistas vencedores do Prêmio Nobel veem uma “bomba de inflação” nas políticas econômicas propostas por Trump. Esse alerta reflete a preocupação com a sustentabilidade das políticas que podem desestabilizar a economia e prejudicar o ambiente de negócios.
Jonathan Mahler, em um artigo para o New York Times, destaca a negação que permeia a elite corporativa americana em relação às ameaças representadas por uma possível segunda administração Trump. Além de suas promessas populistas, Trump e seus aliados sinalizam de forma cada vez mais clara um segundo mandato muito mais radical, com políticas protecionistas severas e um estilo de governança punitivo contra empresas que desafiam suas agendas.
Em Davos, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, tentou tranquilizar os líderes globais afirmando que os negócios continuariam estáveis, mas a realidade pode ser muito diferente. O aumento da volatilidade e do risco regulatório são apenas alguns dos perigos que poderiam abalar a confiança no sistema econômico americano e global.
Rachel Kleinfeld, em um relatório da Carnegie Endowment for International Peace, examina os efeitos dos governos populistas em países como Hungria, Brasil e Índia, mostrando como essas administrações aumentam a volatilidade e usam o poder regulatório para manipular mercados ou tomar controle de negócios. Essa análise serve de alerta para aqueles que acreditam que a estabilidade empresarial pode ser mantida independentemente de quem esteja no poder.
Além disso, Ronald Brownstein, em um artigo para The Atlantic, traz à tona as preocupações de economistas proeminentes como Larry Summers e Mark Zandi sobre as políticas econômicas de Trump. Summers alerta que as propostas de Trump, são evidentemente inflacionárias e poderiam acelerar a inflação substancialmente, a menos que uma grande recessão ocorra primeiro. Zandi prevê que a agenda econômica de Trump aumentaria a taxa de inflação e forçaria o Federal Reserve a aumentar ainda mais as taxas de juros, resultando em uma estagflação – uma combinação de crescimento econômico lento e alta inflação, semelhante à que ocorreu nos anos 1970.
Trazendo uma perspectiva filosófica, podemos recorrer a Spinoza e seu conceito de conatus – o esforço de todo ser em perseverar na existência. Segundo Spinoza, todos os seres vivos lutam para continuar existindo, e os humanos não são exceção. No entanto, Spinoza também se perguntou por que os homens muitas vezes lutam por sua própria escravidão, acreditando estar lutando por sua liberdade.
Aplicando esse pensamento ao mundo dos negócios, podemos ver que apoiar sistemas e líderes que minam a democracia é um ato de auto-sabotagem. Empresários que valorizam suas conquistas, alcançadas graças à democracia, e que não protegem esse sistema, estão cometendo um erro de pensamento. Esse erro é comparável a um suicídio econômico e social.
O mercado e sua racionalidade
Será que o mercado é irracional? Ou está focado apenas no curto prazo? Essas são questões que precisamos considerar. Em um mundo onde a volatilidade e a incerteza estão cada vez mais presentes, é tentador buscar ganhos rápidos e soluções imediatas. No entanto, um ambiente de negócios saudável exige uma visão além da confusão imediata, enxergando as consequências de longo prazo de nossas escolhas políticas.
Tomar decisões baseadas apenas no benefício imediato pode levar a uma série de problemas a longo prazo, como instabilidade econômica, inflação descontrolada e um ambiente de negócios adverso. A história nos mostra que períodos de crescimento sustentado e prosperidade econômica estão diretamente ligados a políticas estáveis e previsíveis, que promovem um ambiente seguro para investimentos e inovação.
Portanto, é crucial que empresários e investidores adotem uma perspectiva de longo prazo, evitando a armadilha de ganhos rápidos que podem comprometer a sustentabilidade de seus negócios e do mercado como um todo.
Conclusão
Para garantir a continuidade da prosperidade e do crescimento, empresários, empreendedores e investidores precisam reavaliar suas posições. Defender a democracia e seus valores fundamentais não é apenas uma questão de princípios, mas de sobrevivência econômica. O futuro dos negócios depende de nossa capacidade de ver além do presente e de proteger os alicerces que nos permitiram prosperar.
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