Redescobrindo o papel inovador da democracia como modo de vida
Programa de Aprendizagem com Augusto de Franco
Augusto de Franco (2023) é autor do livro Como as democracias nascem | How democracies are born
PERÍODO LETIVO
Início: 17 de outubro de 2024 | Encerramento: 05 de dezembro de 2024
PROGRAMA
Módulo 1 - Democracia. O básico que você tem que saber. Como aprender democracia?
Módulo 2 - Democracia e inovação. Libertar as forças criativas e empreendedoras da sociedade, impulsionando o florescimento dos negócios, encorajando as pessoas a inovar e a se associar para inovar, caminhando com suas próprias pernas para melhorar as suas condições de vida e convivência social. Como experimentar a democracia para configurar novos ambientes favoráveis à inovação?
Módulo 3 - Democracia e capital social. Aumentar os níveis sociais de confiança, cooperação e solidariedade. Como investir em capital social?
Módulo 4 - Democracia e paz. Construir soluções para os problemas em vez de buscar culpados para punir. Como criar zonas livres da polarização?
Módulo 5 - Democracia e saúde. Como experimentar configurações de rede de pessoas que possibilitem o aumento da quantidade e da qualidade de vida?
Módulo 6 - Democracia e educação. Como promover a aprendizagem interativa para desenvolver potencialidades da Inteligência Tipicamente Humana (IH) que não pode ser substituída pela Inteligência Artificial (IA)?
Módulo 7 - Democracia e desenvolvimento. Como induzir o desenvolvimento humano e social sustentável por meio do investimento em capital humano e em capital social?
DURAÇÃO
De 2 semanas (programa mínimo) a 7 semanas (programa completo).
INSCRIÇÕES
Abertas a partir 22/09
Vagas limitadas
PREÇOS
R$ 100,00 por módulo. O participante pode escolher quais módulos vai fazer. No mínimo 2 módulos. O módulo 1 é obrigatório. 2 módulos = R$ 200,00 até 7 módulos = R$ 700,00.
PAGAMENTO
Só por Pix (QRCode abaixo)
Ou use a chave Pix: 59654e42-6df7-4ce0-bdf1-08e008ed39ba
METODOLOGIA, MATERIAL E RECURSOS DIDÁTICOS
O participante receberá ou terá direito de participar (já incluído no preço):
1) Um texto geral (426 páginas) com as referências teóricas para consulta.
2) Uma sessão Zoom (ao vivo) por semana (sempre começando às 20h00):
Zoom Módulo 1 – 24 de outubro
Zoom Módulo 2 – 31 de outubro
Zoom Módulo 3 – 7 de novembro
Zoom Módulo 4 – 14 de novembro
Zoom Módulo 5 – 21 de novembro
Zoom Módulo 6 – 28 de novembro
Zoom Módulo 7 – 05 de dezembro
3) Uma apresentação de slides com o resumo da semana.
4) Todo o material estará disponível em posts no site Dagobah (acessíveis com senha pelos inscritos).
5) Todos os participantes serão incluídos em um grupo do WhatsApp relativo ao Módulo 1. Os outros seis módulos terão também grupos de WhatsApp específicos (nos quais serão incluídos apenas os participantes que optarem pelos módulos respectivos).
JUSTIFICATIVA | TEXTO DE APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA
Por que democracia?
Temos evidências importantes para preferir a democracia a outros modos de regulação de conflitos.
Temos evidências de que a democracia aumenta os níveis sociais de confiança, cooperação e solidariedade na base da sociedade e no cotidiano do cidadão (ou seja, aumenta o estoque ou o fluxo do capital social – que é a principal condição sistêmica para o florescimento de experiências de desenvolvimento humano e social sustentável).
E temos evidências de que a democracia liberta as forças criativas e empreendedoras da sociedade, impulsionando o florescimento dos negócios, encorajando as pessoas a inovar e a se associar para inovar, caminhando com suas próprias pernas para melhorar as suas condições de vida e convivência social. Isso cria um campo de relações colaborativas e empáticas que geram maior potencial de soluções de questões práticas, inclusive no campo da economia.
Temos evidências de que a democracia é um regime de paz (basta ver que não há exemplos de guerras entre dois países democráticos).
E temos fortes evidências de que um regime democrático consegue evitar a ascensão de forças políticas autoritárias que desrespeitam os direitos humanos e as liberdades civis dos cidadãos. Se as sociedades russa, italiana e alemã das primeiras três décadas do século passado tivessem sido democráticas (ou mais democráticas) dificilmente nelas teriam prosperado os totalitarismos stalinista, fascista e nazista.
Qual o problema? O problema é que não existe democracia sem democratas. E que há um deficit acentuado de agentes democráticos no Brasil atual. Ou seja, não propriamente de pessoas que concordem passivamente com a democracia e que digam, quando perguntadas, que preferem a democracia a outros regimes. O que está em falta são agentes democráticos, com habilidades e competências que permitam, em primeiro lugar, conectar os democratas existentes e multiplicar o seu número (nas organizações do Estado e da sociedade). Em segundo lugar, fermentar a formação de uma opinião pública democrática. Em terceiro lugar, resistir ao autoritarismo e a qualquer populismo. Em quarto lugar, ensaiar processos democráticos (em todos os lugares onde for possível experimentar a democracia como modo-de-vida).
Parece inegável que há hoje, no Brasil e no mundo, um deficit de agentes democráticos, no sentido acima.
Qual o papel dos agentes democráticos?
O papel dos democratas durante os tempos difíceis de recessão democrática que estão vindo (e podem durar ainda muito tempo) é manter vivas conversações democráticas onde for possível, multiplicando – em iniciativas locais – o número de democratas, encontrando e palmilhando novos caminhos na escuridão e usando suas pequenas luzes para usinar novas matrizes de interação com o mundo que tenham a ver com comportamentos consonantes com ideias de liberdade como sentido da política, de autonomia, de colaboração, de auto-organização, de rede (mais distribuída do que centralizada) e de convivencialidade amistosa (ou não-adversarial). Esses são os valores das Casas da Democracia.
O que democracia tem a ver com inovação social?
A democracia foi a maior ruptura já surgida na cultura patriarcal, hierárquica e guerreira, que se replicava há cerca de três milênios. Até hoje permanece sem explicação como pode ter aparecido, há cinco séculos antes da Era Comum, essa inovação social que fez com que, numa pequena cidade, uma sociedade resolvesse experimentar viver sem um senhor. Sim, foi uma inovação social antes de ser uma inovação política.
Não se sabe igualmente o que aconteceu para que esse processo se tornasse possível. De qualquer modo, nada disso teria acontecido sem uma mudança na topologia das redes sociais dos homens livres de Atenas. Por isso se pode afirmar que a democracia é, antes de qualquer coisa, uma inovação social.
A democracia como modo de vida, experimentada em âmbito local, surgiu antes da democracia como regime político.
Por que voltar ao local (ou ir para o glocal)?
Quem investiga redes e democracia entende que os democratas são netweavers. A eles acabe articular e animar o processo interativo de formação de uma opinião pública democrática. Esse papel não é cumprido por maiorias, mas por minorias de agentes democráticos. Todavia, sob a terceira onda de autocratização que nos assola neste século e num novo estado de guerra fria já instalado mundialmente, talvez esse papel só possa se exercer plenamente no plano local (comunitário). Os netweavers serão cada vez mais raros. E mais raros ainda serão os democratas que, além de netweavers, cumprem o papel de guardiães do kernel, protegendo os padrões democráticos que podem se reproduzir, em outras regiões do tempo, quando os ambientes sociais se configurarem de modo favorável.
O que se pode fazer de socialmente inovador em saúde?
O que há de inovador em saúde, de um ponto de vista social, não é somente o avanço da medicina curativa e sim a descoberta de configurações de redes de pessoas que possibilitem o aumento da quantidade e da qualidade de vida.
Bons exemplos – não modelos para ser copiados – são o que aconteceu em Roseto (na Pensilvânia) e as Blue Zones. A relação entre democracia como modo-de-vida e as experiências de Roseto e das Zonas Azuis de Dan Buettner parece clara. A democracia incide, sim, na melhoria das condições de vida dos indivíduos, mas não diretamente e sim pela melhoria das condições de convivência social das comunidades onde esses indivíduos interagem. Ela melhora as condições de vida da rede (quando os interagentes passam a ser capazes de viver a sua convivência).
Estudando o que aconteceu em Roseto, Stewart Wolf e John Bruhn descobriram as razões das pessoas naquela localidade terem baixíssima incidência de doenças cardiovasculares. Eles observaram como as pessoas interagiam, parando para conversar em italiano na rua ou cozinhando umas para as outras nos quintais. Elas, as pessoas de Roseto, eram saudáveis por causa do lugar onde viviam, do mundo que haviam criado para si mesmas em sua minúscula cidade nas montanhas. Observaram como as pessoas interagiam, parando para conversar em italiano na rua ou cozinhando umas para as outras nos quintais. Sim, interação e lugar. Em outras palavras: conversações e comunidade. Em outras palavras, ainda: rede e cluster (quer dizer, rede).
Investigando a concentração desproporcional de centenários nas localidades de Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Icária (Grécia), Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda, na Califórnia (EUA), além de Singapura, Dan Buettner e seus parceiros descobriram uma fonte preciosíssima de sugestões para ensaios de democracia como modo-de-vida. Ainda que o número desproporcional de centenários possa ser atribuído à falhas nos registros de óbito nessas localidades, há evidências de que pessoas vivem melhor quando convivem melhor. Eles começaram então a instalar várias Zonas Azuis nos EUA para aumentar a qualidade de vida das pessoas (sobretudo das mais idosas, mas não só). É provável que o mesmo possa ser feito para aumentar a qualidade de convivência social de cidades (como redes de comunidades). Ora, isso pode ser equivalente, nos dias que correm, a experimentar a democracia como modo-de-vida.
O que se pode fazer de socialmente inovador em educação?
O que há de inovador em educação, de um ponto de vista social, é ensejar a aprendizagem interativa, para desenvolver potencialidades da inteligência tipicamente humana. É verdade que as máquinas poderão fazer muitas coisas que os humanos fazem hoje. Mas isso significa apenas que os humanos estão fazendo coisas que não são propriamente humanas (ou seja, coisas que só eles podem fazer). Quebrar e carregar pedras, levantar paredes, recolher lixo, fabricar peças, montar e dirigir veículos, projetar construções, resolver cálculos, aplicar técnicas cirúrgicas e uma infinidade de outros trabalhos e atividades podem ser feitos por máquinas. Sinal de que, quando fazemos isso, estamos, de certo modo, cumprindo funções de máquina.
Para realizar esses trabalhos, os humanos usaram ferramentas e máquinas não inteligentes. Mas o pior é que os humanos também usaram outros humanos transformando-os em máquinas. Ao fazerem isso, também se transformaram em máquinas. Quer dizer que essa história de que as máquinas controlarão os humanos é muito antiga.
De qualquer modo, para realizar trabalhos de máquina, usamos nossa inteligência. Essa inteligência que usamos será parecida com a inteligência artificial que as novas máquinas usarão. Mas, em geral, não usamos nossa inteligência tipicamente humana para fazer qualquer coisa que máquinas puderam ou poderão fazer.
Então o grande problema hoje, quando caminhamos para mundos em que a inteligência artificial terá uso generalizado, é saber como desenvolver nossa inteligência tipicamente humana.
Esta deveria ser a preocupação principal dos que se dedicam à chamada educação. Não a de querer competir com as máquinas inteligentes, nem ficar buscando formas de aprimorar a capacidade de resolver problemas, de aumentar a memória e de potencializar outras capacidades cognitivas que não são exclusivamente humanas e poderão ser exercidas por máquinas inteligentes e sim como ensejar que as pessoas que vão viver no futuro próximo da Inteligência Artificial aprendam a projetar mundos em que humanos possam se libertar das tarefas de máquinas e não se transformem – ou não transformem outros humanos – em máquinas.
O que se pode fazer de socialmente inovador em desenvolvimento?
O que há de inovador em desenvolvimento, de um ponto de vista social é configurar ambientes favoráveis à geração de capital social. Ou seja, à reprodução de comportamentos de liberdade como sentido da política, de autonomia, de colaboração, de auto-organização, de rede (mais distribuída do que centralizada) e de convivencialidade amistosa (ou não-adversarial).
A ideia básica é que o desenvolvimento não pode ser levado de fora para dentro. Ele é um metabolismo da rede no presente. A questão é que mesmo que as redes existam independentemente de nossos esforços conectivos voluntários, as pessoas só se encontrarão (e reconhecerão) como membros dessas redes na medida em que forem estabelecendo relações entre si. E, para tanto, existem apenas dois caminhos: a) aumentar a conectividade geral dos ambientes onde vivem essas pessoas, possibilitando a multiplicação dos laços fracos entre elas; e b) incrementar as relações amistosas que podem surgir entre essas pessoas quando elas se conectam a partir de seus desejos congruentes para fazer qualquer coisa juntas.
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