Democratas defendem a democracia
A cláusula democrática nas articulações internacionais
Democratas, em qualquer circunstância, defendem a democracia. Por isso, em iniciativas de articulação internacional, democratas defendem a existência de cláusula democrática.
O Mercosul, felizmente, possui uma cláusula democrática, formalizada no Protocolo de Ushuaia sobre o Compromisso Democrático de 1998 (a vigência plena de instituições democráticas é condição essencial para a participação no bloco).
Se futuramente quisermos propor uma união latino-americana, é necessário resolver uma questão: como ficam Cuba, Venezuela, Nicarágua, El Salvador e Haiti, que são ditaduras?
A União Europeia tem cláusula democrática, baseada nos Critérios de Copenhague, estabelecidos em 1993 (exigindo dos países que queiram aderir à UE instituições estáveis que garantam a democracia, o estado de direito, os direitos humanos e o respeito e proteção das minorias).
A OCDE tem cláusula democrática, exigindo Governo Aberto (o que envolve transparência, participação social, accountability - princípios que estão diretamente ligados à promoção da boa governança e da democracia).
A ONU, infelizmente, mas por compreensíveis razões históricas, não tem cláusula democrática. Por isso, nas decisões da sua Assembleia Geral, um voto da Noruega é anulado por um da Síria, o voto da Finlândia é neutralizado pelo da Eritréia, do Reino Unido pelo do Iêmem, da Suíça pelo do Sudão. Ou seja, num mundo, segundo o V-Dem 2025, de 91 autocracias, às quais se alinham, não raro, uma parte dos 59 regimes eleitorais não-autocráticos, mas também não-liberais, as 29 democracias liberais estarão sempre em desvantagem.
O BRICS, espantosamente, parece ter cláusula antidemocrática já que cerca de 80% dos países que o compõem são ditaduras.
Vejamos quais são os regimes dos membros atuais do BRICS (segundo o V-Dem e, em um caso ou outro, a The Economist Intelligence Unit).
Membros antigos
Brasil – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed.
Rússia – Autocracia eleitoral.
Índia – Autocracia eleitoral.
China – Autocracia fechada.
África do Sul – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed (por erro ou escorregada ideológica o V-Dem promoveu a África do Sul à democracia liberal no seu relatório de 2025, mas é melhor ignorar esse percalço).
Países membros
Egito - Autocracia eleitoral.
Etiópia - Autocracia eleitoral.
Indonésia - Autocracia eleitoral.
Irã - Autocracia fechada.
Arábia Saudita - Autocracia fechada.
Emirados Árabes Unidos - Autocracia fechada.
Países parceiros
Vietnam - Autocracia fechada.
Belarus - Autocracia eleitoral.
Bolívia - Democracia eleitoral (não-liberal), flawed.
Cuba - Autocracia fechada.
Cazaquistão - Autocracia eleitoral.
Malásia - Democracia eleitoral (não-liberal), flawed.
Nigéria - Autocracia eleitoral.
Tailândia - Autocracia eleitoral.
Uganda - Autocracia eleitoral.
Uzbequistão - Autocracia fechada.
Desnecessário dizer que não há no BRICS nem uma democracia liberal ou plena.
Pra ser franco, envio ao augusto colunista um elogio desbragado (nada a ver com o chupim verde oliva vice-presidente) e digo que pouca gente tem capacidade e coragem para publicar conteúdos tão relevantes principalmente pra quem gosta de democracia. A mídia mainstream está mais preocupada com vômitos diários que saem da boca do presidiário-presidente. A discussão no Brasil está sempre com o tema errado.