Dias piores virão
Augusto de Franco, 98live (06/09/2024)
Vamos supor que a atuação de Alexandre de Moraes e de seus pares corporativos tenha sido fundamental para "salvar a democracia" evitando um golpe de Estado em 2022 e início de 2023. Agora estamos em setembro de 2024. Há ameaça de golpe de Estado no curto ou médio prazos? Só um louco diria que sim. Então por que o STF, o governo Lula, o PT e o jornalismo amestrado, continuam se comportando como se houvesse? Bem, tudo depende da narrativa. Fascistas disputando eleições já representam uma ameaça de golpe. Se vencerem...
Isso significa que temos uma novilíngua no Brasil. É preciso aprender o novo vocabulário e as novas definições políticas:
Nova definição 1 - Fascistas = Todos que não beijam a mão do grande líder ou não concordam com as decisões da suprema corte.
Nova definição 2 - Ameaça à democracia = Fascistas disputarem eleições.
Nova definição 3 - Golpe de Estado = Fascistas vencerem eleições.
É claro que as definições acima parecem inspiradas em Nicolás Maduro, para o qual todos que lhe fazem oposição são fascistas. Em consequência, têm de ser punidos e banidos da vida pública (e, em muitos casos, também da vida privada, sendo mortos).
Maduro e seu partido PSUV são hoje minoria na Venezuela. Façamos um paralelo com o Brasil do histórico aliado de Maduro, Lula da Silva.
O governo Lula e o PT também são minoritários no Brasil. São minoritários no colégio dos governadores, nas prefeituras das grandes cidades, nos parlamentos estaduais e municipais, no Congresso Nacional, nas mídias sociais e nas ruas.
O que se pode fazer numa situação como essa?
Em primeiro lugar, montar um sistema de governança que compense essa desvantagem, partidarizando a administração federal e as empresas estatais, alguns canais de TV (com destaque para a Globo News, mas não só), os tribunais superiores (em especial o STF) e o MP (a PGR).
Em segundo lugar, caracterizar todos aqueles que criticam o governo como fascistas, seguindo a lição de Maduro. Isso dará legitimidade a qualquer medida antidemocrática adotada contra as oposições.
Em terceiro lugar, retirar das oposições os meios de influir no debate público. É nesse contexto que devemos analisar a suspensão do X (ex-Twitter) no Brasil.
É um absurdo, que os democratas não esquecerão, muito menos normalizarão, a suspensão (que pode virar banimento) do X no Brasil. Essa mídia social só está banida em ditaduras: Rússia, China, Irã, Mianmar, Coreia do Norte, Turcomenistão e Venezuela. Agora também está suspenso no Brasil, por ordem do STF.
Não se entende como o STF teve a coragem - ou o desplante - de fazer isso, cortando o acesso de mais de 20 milhões de brasileiros inocentes, que não são parte em nenhum processo judicial. A não ser que se encare que todos os desmandos se justificam porque o X estava sendo usado por “fascistas” para dar um golpe de Estado (entenda-se: vencer eleições).
Porque Lula e o PT sabem que vão perder as eleições de 2024: está difícil elegerem algum prefeito nas capitais e nas grandes cidades. Isso coloca em risco as eleições de 2026, onde o candidato eterno e já bastante idoso tentará obter mais um mandato presidencial (o quarto da sua carreira e o sexto do PT). As perspectivas também não são boas para 2028 e 2030.
Transformar populações pobres em pensionistas do Estado, com programas de transferência de renda em troca do voto, é uma manobra que está se esgotando. Inclusive na Venezuela, onde tradicionais redutos chavistas, alimentados com “programas sociais” da ditadura, em imensos bairros pobres, não votaram em Maduro e sim no seu opositor Edmundo González (aquele que venceu as eleições e foi roubado). O melhor exemplo é Petare, a maior favela do continente e do Ocidente, localizada em Caracas. Ali Maduro perdeu (ou perdeu boa parte dos votos garantidos que tinha).
Deve ser imenso o pânico de que isso ocorra nas periferias urbanas e rurais do Brasil e na única região do país onde Lula venceu em 2022: o Nordeste (sim, ele perdeu no Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste e no Norte).
O pânico leva ao desespero. O desespero leva à degeneração da política como guerra (contra os “fascistas”). Sentimos muito ter de dizer isso: dias piores virão.