Dificuldades para um Estado palestino
Os democratas defendemos um Estado palestino ao lado do Estado israelense. Mas, na prática, é muito difícil fazer isso.
O jihadismo ofensivo islâmico (que não foi destruído) e a teocracia iraniana (que não caiu) não querem dois Estados e sim a aniquilação do Estado de Israel. Além disso, não há território para dois Estados um ao lado do outro e sim para um entranhado no outro (e com uma descontinuidade territorial incontornável entre Gaza e Cisjordânia: não será possível construir um túnel ou passarela de 78 Km ligando a Cidade de Gaza à Ramallah).
E tem mais: provavelmente esse novo Estado não seria um Estado democrático de direito e sim uma décima-quarta autocracia do Oriente Médio, uma ditadura que, sob a influência do eixo autocrático, poderia acabar atacando novamente a democracia de Israel no ambiente da segunda guerra fria já instalada globalmente.
Sim, eis os países e territórios do Oriente Médio e seus respectivos regimes (segundo o V-Dem 2025):
Arábia Saudita - Autocracia fechada
Bahrein - Autocracia fechada
Qatar - Autocracia fechada
Emirados Árabes Unidos - Autocracia fechada
Iêmen - Autocracia fechada
Irã - Autocracia eleitoral
Iraque - Autocracia eleitoral
Israel - Democracia eleitoral
Jordânia - Autocracia fechada
Kuwait - Autocracia fechada
Líbano - Autocracia fechada
Omã - Autocracia fechada
Palestina Gaza - Autocracia fechada
Palestina Cisjordânia - Autocracia eleitoral
Síria - Autocracia fechada
Afeganistão, Chipre, Turquia (parte asiática) e Egito (parte asiática) às vezes são incluídos no Oriente Médio expandido; numa acepção ainda mais ampliada incluem-se também Marrocos, Sudão, Geórgia, Azerbaijão e Armênia. Praticamente todos autocracias (com exceção do Chipre, uma ilha que faz parte da União Europeia).
Gaza não é considerado um Estado palestino, mas tem governo (inclusive com um “Ministério da Saúde” que computa e divulga diariamente o número de civis mortos, com destaque para mulheres e criancinhas e sempre omitindo qualquer referência ao combatentes do Hamas mortos). O governo de Gaza é uma ditadura. A Cisjordânia também tem governo ditatorial em território cercado e praticamente ocupado por Israel.
Só uma força armada internacional de ocupação poderia evitar - e ainda assim com muita dificuldade - que esse novo Estado não fosse parasitado e conquistado por forças autocráticas presentes na sociedade palestina, endógenas ou infiltradas por cerca de uma dúzia de organizações ou grupos terroristas espalhados nos outros países da região (coordenados, em sua maioria, pelo Corpo de Guardiães da Revolução Islâmica).
Teria de ser, não se sabe por quanto tempo, uma espécie de protetorado militar, mas - por motivos óbvios - sem tropas de países autocráticos como Rússia, Bielorrússia, China, Coreia do Norte, Vietnam, Laos, o próprio Irã etc. que conspirariam contra a iniciativa. Ou seja, as tropas teriam de ser de países democráticos não alinhados ao eixo autocrático, como EUA (por enquanto), Canadá, Reino Unido, União Europeia (sem Hungria e Eslováquia), Noruega, Suíça, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia.
Essa força de paz e construção teria alguma dificuldade de conviver com os israelenses misturados aos palestinos (mesmo porque muitos israelenses são palestinos - e, a rigor, em certo sentido, todos são, considerando que têm uma origem cananéia comum). E não haveria garantias de que, durante a ocupação, uma cultura democrática (ou, pelo menos, não-jihadista) florescesse na sociedade palestina.
Tudo isso é só para a gente ter uma ideia do tamanho do problema.
Eu defendo a construção de um Estado palestino, de preferência um Estado democrático de direito palestino, mas isso está no reino do futurível.
E não tenho solução para os problemas que acabei de descrever.
Nesse momento a auto determinação é mais importante que a democracia, essa terá de ser construída a partir da primeira e nao o contrário, um povo que so toma pancada vai pensar em defesa e vingança, nao tem jeito