Esperando Godot
Há um esforço por parte de setores da intelectualidade brasileira em relativizar a posição do Brasil sobre a Venezuela sustentando que o tempo da diplomacia difere do tempo da política propriamente dita. Nessa linha de argumentação, o fato de Lula ainda não reconhecer a vitória do candidato oposicionista é uma maneira de manter a comunicação com o ditador, com o regime de fato da Venezuela.
Enquanto isso, o governo ditatorial da Rússia sustenta a farsa da eleição de Maduro, iniciando uma postura de inserção no continente talvez nunca antes vista de um país distante. Se esse movimento não é parte da aliança internacional contra as democracias liberais no mundo, é o que?
Se o Brasil tivesse uma posição independente dessa aliança em gestação com as maiores ditaduras do mundo, o que impediria o Brasil de dizer as coisas pelo nome, que a eleição de Maduro é uma fraude? Qual o movimento que o Brasil fará no sentido de se descolar dessa aliança e consagrar uma postura pró-democracia no continente?
As evidências históricas recentes não nos fazem acreditar que Lula irá tomar caminho diferente daqueles manifestados por China e Rússia. O tempo e a qualificação da diplomacia brasileira não conseguem esconder o fato de que há uma aliança em consolidação de Lula contra as democracias liberais no mundo. O tempo da diplomacia talvez seja só o tempo do governo fazer de conta que o problema acabou e que tudo continua como d’antes no quartel de Abrantes. Será que é esse o tempo com que contam os referidos intelectuais para normalizar a posição vexaminosa do Brasil até então?
Sobre o título | Esperando Godot é uma peça de 1955 do escritor irlandês Samuel Beckett sobre dois homens, Vladimir e Estragon, à espera de um terceiro homem, Godot, que nunca chega. A peça é um exemplo típico do Teatro do Absurdo, e as pessoas usam a frase “esperando Godot” para descrever uma situação em que estão esperando que algo aconteça, mas provavelmente nunca acontecerá.
Esta nota foi redigida por Rafael Ferreira, do staff de Inteligência Democrática.