Governo e STF com medo do voto
Não há golpe nenhum no horizonte
Atenção, pessoal. A conjuntura está mudando rapidamente. O regime político brasileiro não é uma ditadura, mas está entrando em processo acelerado de autocratização.
A coalizão informal - e ilegal - Governo-STF não tem medo dos tanques ou canhões do Exército ou das botas dos soldados, nem tem medo de um “golpe permanente” bolsonarista inventado pelos petistas. Ela tem medo dos votos daqueles e daquelas que não vão votar em Lula e no PT.
Com a liminar de Gilmar Mendes, o STF não está se protegendo de um imaginário golpe bolsonarista. Não há golpe nenhum no horizonte. O que há são as eleições de 2026. O STF está se protegendo - repita-se - do voto dos brasileiros e brasileiras que não votam em Lula e no PT.
Acho que é a primeira vez que vejo uma suprema corte em uma democracia dizer que precisa se proteger de um resultado eleitoral desfavorável às preferências políticas da maioria de seus membros. Em termos exatos isso é uma proteção contra a própria democracia.
Em síntese, o que o STF está nos dizendo é o seguinte. Os eleitores votam errado. Nós, que sabemos o que é certo, temos de proteger o Brasil do seu próprio povo.
É assim que pensa o revolucionário socialista, nos tempos que correm travestido de “progressista”. O proletariado, per se, não pode ter consciência dos seus próprios interesses históricos. Essa consciência tem que se transfundida do líder (que é a síntese do povo) e dos intelectuais militantes (que conhecem as leis da história porque adotam o método correto de interpretação fornecido pelo marxismo) para os trabalhadores. Então os iluminados têm o direito e o dever de conduzir as massas que jazem na escuridão para seu futuro glorioso, que elas mesmas não podem conhecer por conta própria.
Desde meados do século 19 essa construção ideológica foi, do ponto de vista da democracia, uma usurpação. E agora, na terceira década do século 21, também é uma usurpação o que o STF está fazendo: mudando as leis e criando novas leis - prerrogativas exclusivas do parlamento - sob a desculpa barrosiana de que está “recivilizando” o país.
Se não houver reação à altura do parlamento e da cidadania, vamos cair no buraco negro de uma crise institucional sem precedentes. Na melhor das hipóteses. Na pior, podemos virar uma autocracia.



