Lula e o PT vão investir cada vez mais na polarização
Lula e o PT são os principais responsáveis pela polarização tóxica que continua envenenando a democracia brasileira. Não é de hoje. Quem introduziu o “nós contra eles” na política nacional foi o lulopetismo, não o bolsonarismo (que nem existia na ocasião). O plano original era transformar FHC no Inimigo Público Número 1, que só não colou porque o tucanato não se enquadrava nesse papel. Com o bolsonarismo, porém, colou - graças ao antipetismo crescente após os escândalos de corrupção do mensalão e do petrolão, o governo desastrado de Dilma e o movimento pelo seu impeachment, a condenação e a prisão de Lula. De certo modo, o bolsonarismo foi construído como facção do mal pelo lulopetismo - e isso foi providencial para a recuperação dos reveses políticos que sofreu.
Em uma das suas falas sinceras, de improviso, Lula chegou a defender a polarização como normal e desejável. Comparou-a com a oposição entre deus e o diabo. E isso diz tudo.
Agora Lula e o PT precisam de novo do bolsonarismo. Não podem mais fazer a campanha como ‘defensores da soberania’ do Brasil contra o imperialismo norte-americano - não depois que o “companheiro Trump” anda abraçando Lula, suspendendo as tarifas comerciais e as sanções à autoridades brasileiras. Vão tentar então vestir novamente a roupa de ‘salvadores da democracia’, como se Bolsonaro e seus sequazes, minoritários e cada vez mais isolados, tivessem condições de dar um golpe de Estado. Como sabem que isso é um delírio, que não vai colar, estão construindo a narrativa de que o golpe bolsonarista agora é um “golpe eleitoral”. Se Lula não for reeleito em 2026 (de preferência no primeiro turno) isso será um golpe na nossa democracia. Significa, no limite, que toda oposição - mesmo que não seja bolsonarista - será tratada como golpista.
A imprensa é alimentada com factoides para manter viva a polarização com o bolsonarismo. Por exemplo, não tem a menor importância se a Zambelli vai ficar presa na Itália ou vai ser deportada para ficar presa no Brasil. Ela já não é deputada e não será candidata: está fora do jogo. Outro exemplo, são irrelevantes os movimentos de Eduardo Bolsonaro. Se ficar nos EUA ou voltar ao Brasil para ser preso, tanto faz. Já não é deputado e não será candidato a nada. Está fora do jogo. O mesmo vale para o fugitivo Ramagem. Não é mais deputado, não será candidato e está fora do jogo. Tudo isso vale igualmente para Jair Bolsonaro. Não importa se cumprirá pena de 30 anos ou de 3 anos. Num prazo hábil da política está fora do jogo: não será anistiado e permanecerá inelegível. Ademais, está doente e incapacitado para voos maiores no seu tempo de vida útil. Os meios de comunicação alinhados ao governo cumprem o vergonhoso papel de requentar diariamente esses assuntos, alimentando a falsa ideia de que esses refugos de incêndio são ameaças reais que colocam em risco a nossa democracia.
Mas Lula e o PT vão investir cada vez mais na polarização. Eles precisam, desesperadamente, que o cadáver político de Bolsonaro permaneça insepulto. O populismo lulopetista é uma força guerreira, construída para o combate contra inimigos, não para a negociação com uma pluralidade de adversários que caracteriza a dinâmica democrática.



