Não houve golpe de Estado no 8 de janeiro
Augusto de Franco, 98live (08/02/2025)
Hugo Motta, novo presidente da Câmara dos Deputados, neste caso, está certo. Houve tentativa de golpe, mas os eventos do dia 8 de janeiro não foram golpe de Estado. Pelo contrário, foram uma revolta pelo fato do golpe (a intervenção militar, tão desejada pelos golpistas) não ter acontecido. As articulações (mal-sucedidas) para o golpe ocorreram, sim, mas bem antes.
Os vândalos do 8 de janeiro tinham motivação golpista. Mas isso não basta para caracterizar seus vários crimes como golpe de Estado. Intenção e tentativa de golpe não é a mesma coisa que golpe desfechado e fracassado. No dia 8 não houve um golpe que fracassou, como vimos, recentemente, na Coreia do Sul. Aqui houve um golpe que não se concretizou (por falta de força político-militar para tanto). As punições draconianas aos inconformados do dia 8, portanto, não se justificam. A justiça não deve ser exemplar e sim justa.
O argumento de que os invasores das sedes dos três poderes objetivavam criar um clima de caos de tal dimensão que forçasse uma intervenção militar para restaurar a ordem pública, é falso como uma nota de 13 reais. É uma vergonha que analistas respeitáveis que pontificam nos meios de comunicação profissionais repitam isso.
Se fosse assim eles não iriam completamente desarmados. Se fosse assim eles não escolheriam um domingo, quando não havia quase vivalma nos prédios. Se eles, os vândalos ressentidos com o fracasso do golpe, achassem que isso (a intervenção militar) tinha alguma viabilidade àquela altura, teriam organizado minimamente a rebelião, elaborado e divulgado algum manifesto, articulado alguma ação demonstrativa com oficiais no comando de tropas (nem que fosse um desfile de tanques fumacentos, como ocorreu em 10 de agosto de 2021, em Brasília).
Nada disso houve. Só a baderna e a depredação de patrimônio público, ainda que orientada ou estimulada por idiotas golpistas igualmente frustrados com o fracasso do movimento – que já era patente. Então veio o cosplay caboclo. Nem a imitação do 6 de janeiro americano - o nosso “Capimtolio” cover - foi crível. Aqui um novo presidente já tinha sido eleito em um pleito sem contestação e tomado posse.
Mesmo que os vândalos tivessem acampado por vários dias nas sedes do Planalto, do Congresso e do Supremo, isso não teria paralisado o funcionamento dessas instituições, como vimos no período da pandemia de Covid.
A caracterização do 8 de janeiro como ato de um golpe de Estado desfechado e as penas exageradas impostas aos manifestantes cumprem apenas o objetivo político de prorrogar um estado judicial de exceção. O propósito é manter a sociedade sob o medo do golpe e classificar qualquer contestação ao governo como parte ou desdobramento de um golpe de Estado que subterraneamente está em curso enquanto a extrema-direita (responsável pelo 8 de janeiro) não for extirpada.
Sim, agora golpe de Estado, para o governo, é qualquer coisa que possa impedir ou dificultar a eleição de Lula ou de alguém que ele indicar. Por isso, estaremos em estado de exceção até 2026. O governo do PT, o STF e a imprensa chapa-branca estão alinhados nessa interpretação.
Sempre me vem à mente duas perguntas que ninguém responde: com essa tiozada tonta e bandeirosa, é impossível que a segurança não sabia o que iria ocorrer, por que não fizeram nada pra impedir?
O que o ministro do Lula tava fazendo lá abrindo a porta pros vândalos entrarem?
Excelente texto!!