O BRIC começou em junho de 2009 como um grupo de grandes países emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China. Dois anos depois, em 2011, foi incluída a África do Sul, transformando o acrônimo em BRICS. Quase treze anos depois, em janeiro de 2024, foram admitidos novos países: Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Surgiu assim o BRICS+ (a Argentina também foi convidada, mas refugou; a Arábia Saudita continua incluída pois não negou sua adesão). Aí então aconteceu o encontro de Kazan, na Rússia, em outubro de 2024, no qual foram convidados, na qualidade de países parceiros: Turquia, Argélia, Belarus, Cuba, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnam, Nigéria, Uganda, Bolívia, Malásia e Indonésia.
A nova composição dos BRICS, em termos de regimes políticos, é a que aparece na tabela abaixo (que combina a classificação de regimes do V-Dem com traços da classificação da The Economist Intelligence Unit):
O BRICS virou uma articulação política, disfarçada de bloco econômico, majoritariamente composta de ditaduras (autocracias fechadas e autocracias eleitorais, na classificação do V-Dem).
Temos hoje 7 autocracias fechadas (China, Irã, EAU, Arábia Saudita, Cuba, Uzbequistão e Vietnam), 11 autocracias eleitorais (Rússia, Índia, Egito, Etiópia, Turquia, Argélia, Belarus, Cazaquistão, Tailândia, Nigéria e Uganda); ou seja, um total de 18 regimes autoritários. E temos 5 regimes eleitorais não-autoritários, mas também não-liberais, ainda chamados de democracias eleitorais (conquanto flaweds, segundo a classificação da The Economist Intelligence Unit - EIU).
O BRICS continua sem nenhuma democracia liberal (V-Dem) ou plena (EIU). Não tem nem mesmo uma democracia eleitoral formal com status ascendente ou em transição democratizante (como, por exemplo, Portugal, Eslovênia, Moldávia, Lituânia ou Malta). Só entrou grande parte do rebotalho do mundo.
Por que nenhuma democracia liberal (V-Dem 2024) tem interesse em se juntar ao BRICS? Se é um bloco comercial, só para impulsionar o desenvolvimento dos povos, é necessário explicar por que as seguintes democracias (segundo o V-Dem) não se juntam à iniciativa: Austrália, Bélgica, Costa Rica, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Alemanha, Islândia, Irlanda, Japão, Letônia, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Seicheles, Espanha, Suécia, Suíça, Taiwan, EUA, Barbados, Butão, Canadá, Chile, França, Itália, Noruega, Coreia do Sul, Suriname, Reino Unido, Uruguai.
E por que nenhuma democracia plena (EIU 2023) foi incluída no BRICS? São elas: Noruega, Nova Zelândia, Islândia, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Irlanda, Suíça, Holanda, Taiwan, Luxemburgo, Alemanha, Canadá, Austrália, Uruguai, Japão, Costa Rica, Áustria, Reino Unido, Grécia, Maurício, Coreia do Sul, França, Espanha.
No reino do BRICSTÃO estão as autocracias e os regimes eleitorais não-liberais (em geral parasitados por populismos). É parte da parte mais atrasada do mundo em termos de indicadores de desenvolvimento humano e social, como o PIB per Capita PPP, o IDH e a colocação no ranking de democracia da EIU.
Vejamos, nas duas tabelas abaixo, uma comparação desses indicadores nos países do BRICS e nas democracias plenas (EIU 2023):
A comparação das duas tabelas acima revela o seguinte:
Nos países BRICS a renda per capita média (US$ PPP 2024) é 24.846,29, enquanto que nas democracias plenas é 68.778,26. Ou seja, a renda média no BRICSTÃO é menos da metade da renda média das democracias plenas. Mais precisamente, a renda média das democracias plenas é quase três vezes maior (2,769) do que a dos países do BRICS.
Nos países BRICS o Índice de Desenvolvimento Humano médio (IDH 2022) é 0,743, enquanto que nas democracias plenas é 0,92 (considerado muito alto).
Nos países BRICS, o índice de democracia médio (EIU Overall Score 2023) é 4,01, enquanto que nas democracias plenas é 8,77.
No BRICS foram incluídas preferencialmente ditaduras. Irã, Emirados, Cuba, Uzbequistão, Vietnam, Egito, Etiópia, Turquia, Argélia, Belarus, Cazaquistão, Tailândia, Nigéria e Uganda não entraram no BRICS apesar de serem ditaduras. Só entraram porque são ditaduras. Ou porque são regimes eleitorais não-liberais parasitados por populismos. Dois exemplos:
O primeiro deles, Cuba. O que Cuba está fazendo no BRICS? É um país grande? Não! É um país emergente? Não, pelo contrário: é submergente. Foi admitido, aliás, sem nenhum protesto do governo Lula (pelo contrário), apenas por um motivo: é uma ditadura, aliada do eixo autocrático.
O segundo exemplo, Bolívia. O que a Bolívia está fazendo no BRICS? Ora, está no lugar certo. É uma democracia flawed, um regime eleitoral não autoritário, mas também não-liberal, parasitado pelo populismo (bolivarianista). O eixo autocrático (Rússia, China, Irã etc) está capturando esse tipo de regime.
O BRICS é uma articulação do eixo autocrático na sua guerra fria contra as democracias liberais. Pode até virar uma aliança militar, do tipo anti-OTAN, não se sabe ainda. De qualquer modo é uma ameaça ao mundo democrático.
Créditos e informações sobre dados
As tabelas acima foram elaboradas com a ajuda de Renato J. Cecchettini e Thiago Padovan (26-27/10/2024).
Os dados do PIB são do WorldBank Data. Não há dados de PIB per capita de Cuba, mas estima-se que deve estar entre 6 e 7 mil US$, talvez até menos. Cuba não entrou na média. Também não há dados de PIB per capita de Taiwan, graças ao imperialismo da ditadura chinesa, que proibe que se trate a ilha como território independente. No entanto, a informação mais próxima encontrada - em Perplexity - indica que o PIB per capita PPP de Taiwan em 2024 é estimado em 76.858. Como os dados para 2023 não foram especificamente mencionados, é possível que o valor para 2023 seja ligeiramente inferior ao de 2024, mas ainda assim próximo desse valor. Taiwan, porém, ao contrário de Cuba, foi incluída na média.
Bom dia Augusto!
Excelente artigo!
O que o Brasil está fazendo no BRICs?
Tenho um respeito enorme por você, mas me desculpe o palavrão:
O governo brasileiro é um poço profundo cheio de merda e cada vez mais a população brasileira, se afunda nesta merda toda!
Sabendo disso: Bora lá fechar esse esgoto, com todos eles dentro, antes que não sobre nenhum de nós, cidadãos limpos e civilizados?
Fazer parte do BRICStão( achei o nome bem apropriado) e não fazer da na mesma, pq duvido que esse bloco politico consiga fazer algo concreto, muito menos uma moeda unica que, pelo jeito, deverá ser lastreada pela China.