O fantasma do "já visto"
Apesar do Congresso já ter revogado a Lei de Segurança Nacional da ditadura parece que ela continua como um fantasma
Para quem viveu e lutou contra a ditadura militar de 64, o momento que vivemos me dá uma sensação de um déjà-vu bastante incomodo. O episódio recente do escândalo das conversas do Juiz Auxiliar e assessores do Ministro do STF e Presidente do TSE, a época Alexandre de Moraes e, claro, outros fatos que se somam a este, são os responsáveis pelo fantasma do "já visto".
Aflorou no debate expressões como atentados a democracia, atos antidemocráticos, palavras e ações contra a segurança das autoridades, especialmente do Judiciário e que chega ao cúmulo de considerar uma "ilicitude grave falar e criticar instituições", sujeitando todos os que assim agirem às penas da lei.
Ainda bem que falar mal do ditador Maduro não tem gerado problema, tal como gerou, inclusive, a cassação de mandato do deputado do MDB baiano Chico Pinto por dizer verdades sobre o sanguinário ditador Pinochet do Chile.
Foi como uma assombração quando soube que houve pente fino em mensagens no X (ex-Twitter) buscando acerbas e criminosas críticas às autoridades da República. De imediato me veio à mente o celebre discurso no Pinga Fogo (expediente do Plenário da Câmara para pequenas comunicações de 5 minutos) do deputado Márcio Moreira Alves que propunha um boicote das jovens moças contra jovens oficiais das FFAA não aceitando nos bailes o convite para dançar. Esse até um tanto bobo discurso foi usado como estopim para a ditadura endurecer ainda mais seu caráter repressivo com o Ato Institucional 5.
Com o totalitário AI-5 os tempos mais sombrios de repressão e crimes da ditadura se acentuaram mas não esqueceram de cascavilhar as miudezas da subversão - tal como fazem hoje com a mineração das criticas às autoridades nas redes sociais - por exemplo cassando o deputado Marcos Tito (MDB-MG) por ter lido um editorial da "Voz Operária" jornal clandestino do PCB que obviamente criticava a ditadura e seus asseclas.
Tudo isso e muito mais alimenta uma tóxica e por todos os títulos nefasta polarização no país, onde parece que só o futebol ainda não foi contaminado pela divisão política mantendo a pluralista divisão clubística. Até a religião esta se curvando à perversão dum pais de duas bolhas.
Apesar do Congresso já ter revogado a Lei de Segurança Nacional da ditadura parece que ela continua como um fantasma infernizando a vida dos brasileiros e, infelizmente, com a mesma criatividade para encontrar a subversão da ordem na ponta da língua e na beira da pele...
Esta nota foi redigida por Roberto Freire para a revista Inteligência Democrática.