O que a narrativa da "internacional fascista" quer esconder
Os que estão urdindo a narrativa de que a extrema-direita - que comporia uma chamada “internacional fascista” - é a única ou a principal ameaça à democracia, querem esconder o seguinte.
Estão hoje no governo apenas 5 líderes que podem ser propriamente considerados de extrema-direita: Orbán (Hungria), Erdogan (Turquia), Bukele (El Salvador), Netanyahu (Israel), Meloni (Itália) - os três primeiros governando regimes autocráticos e os dois últimos governando regimes democráticos. Serão 6 com Trump (EUA) - que, a partir de 2025, também governará um regime democrático. No máximo, portanto, seriam 10, mas ainda não se enquadram bem na categoria extrema-direita Modi (Índia), Putin (Rússia), Milei (Argentina) e Fico (Eslováquia) - os dois primeiros governando autocracias e os dois últimos autocracias.
Na imagem acima temos, além das duas linhas inferiores, já nomeadas no parágrafo anterior, Grillo e Casaleggio (Itália), Salvini (Itália), Kaczynski e Duda (Polônia), Bolsonaro (Brasil), Farage (Reino Unido), Ventura (Portugal), Abascal (Espanha), Wilders (Holanda), Chrupalla e Weidel (Alemanha) e Purra (Finlândia) - nenhum desses, porém, chefiando governos em 2024.
De esquerda ou extrema-esquerda temos (historicamente ou que se declaram socialistas ou comunistas) 8 governantes de regimes autocráticos: Xi (China), Kim (Coreia do Norte), Chính (Vietnam), Siphandone (Laos), Canel (Cuba), Maduro (Venezuela), Ortega (Nicaragua) e Lourenço (Angola) - todos ditadores de esquerda.
Pelo menos 20 regimes estão na esfera de influência das ditaduras russa e chinesa (ou do eixo autocrático - incluindo o Irã). Além de todas as oito ditaduras declaradamente de esquerda, temos Ilham Aliev (do Azerbaijão), Aleksandr Lukashenko (da Bielorrússia), Hun Sen (do Camboja), Mahamat Déby (do Chade), Ismail Haniya e Yahya Sinwar (de Gaza) - já falecidos, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (da Guiné Equatorial), Choguel Kokalla Maïga (do Mali), Bashar al-Assad (da Síria), Salva Kiir Mayardit (do Sudão do Sul), Emomali Rahmon e Kokhir Rasulzoda (do Tajiquistão), Serdar Berdimuhamedow (do Turquemenistão), Shavkat Mirziyayev (do Uzbequistão).
Temos, no total, 89 ditaduras no mundo (autocracias fechadas e autocracias eleitorais - segundo o V-Dem 2024):
No entanto, existem regimes eleitorais não-autoritários (ainda considerados democracias, conquanto apenas eleitorais ou defeituosas) - que também são não-liberais e que estão se alinhando ao eixo autocrático composto pelas maiores e mais crueis ditaduras do planeta. Por exemplo, na América Latina, temos ou tivemos os governantes e ex-governantes populistas de esquerda (neopopulistas) representados na imagem abaixo:
Na imagem acima vemos: Lula e Dilma Rousseff (Brasil), López Obrador e Cláudia Sheinbaum (México), Manoel Zelaya e Xiomara (Honduras), Evo Morales e Luis Arce (Bolívia), Maurício Funes e Salvador Cerén (El Salvador), Hugo Chávez e Nicolás Maduro (Venezuela), Daniel Ortega e Rosario Murillo (Nicarágua), Gustavo Petro (Colômbia), Rafael Correa (Equador), Cristina Kirchner e Alberto Fernandez (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai), Pedro Castillo (Perú). Fidel Castro, Raul e Díaz-Canel (os antigos e o atual ditador de Cuba) não são propriamente populistas, mas investiram na ascensão do populismo de esquerda.
Estima-se que hoje, existem pelo menos 20 regimes eleitorais não-autoritários e não-liberais que estão se alinhando ao eixo autocrático: além de México, Honduras, Colômbia, Bolívia e Brasil (cujos governantes são populistas de esquerda), temos Eslováquia, África do Sul, Malásia, Geórgia, talvez Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Armênia, Kosovo, Macedônia do Norte, Timor Leste, Indonésia e outros ainda não detectados.
A construção chamada de “internacional fascista” - como a única ou principal ameaça à democracia - é minoritária no mundo. A extrema-direita é, com certeza, uma ameaça. Mas a “internacional antifascista”, composta pelas ditaduras de esquerda (China, Coreia do Norte, Vietnam, Laos, Cuba, Venezuela, Nicarágua, Angola), pelas ditaduras islâmicas (como, por exemplo, o Irã e a Síria) e pelas ditaduras seculares (como, entre muitas outras, Rússia, Bielorrússia, Camboja e Tailândia), são uma ameaça incomparavelmente maior.