No Clube de Leitura das Distopias vamos ler os livros malditos (por alguns) e que foram banidos em vários países e circunstâncias diversas.
O primeiro livro que vamos ler não chegou a ser maldito. É A Nova Utopia de Jerome K. Jerome, publicado em 1891. Talvez pela época em que foi publicado - o final do século 19. Os totalitarismos mais liberticidas emergiram no século 20, cerca de 30 anos depois.
Mas o segundo livro, sim, foi maldito e banido em vários países. É o Nós de Yevgeny Zamyatin, que apareceu em 1921, já no pleno domínio do bolchevismo (no país de Zamyatin, a União Soviética) e dos fascismos (na Europa).
O livro de Zamyatin é considerado um dos primeiros romances distópicos e foi proibido em vários contextos devido à sua crítica ao totalitarismo, à perda de individualidade e ao controle estatal.
Abaixo estão os principais lugares onde o livro enfrentou censura.
Na União Soviética. Nós foi proibido na URSS logo após sua escrita. Zamyatin escreveu o romance em 1920, mas ele foi considerado subversivo pelo regime soviético, especialmente por criticar o comunismo e o controle estatal excessivo. A obra nunca foi publicada oficialmente na URSS durante a vida de Zamyatin. Cópias do manuscrito circularam clandestinamente (samizdat), e a primeira publicação ocorreu no exterior, em inglês, em 1924. A proibição na URSS persistiu por décadas, e o livro só foi publicado oficialmente no país no final dos anos 1980, durante a glasnost de Gorbachev.
Nos países do bloco soviético. Durante a Guerra Fria, países sob influência soviética, como Polônia, Hungria e Tchecoslováquia, também restringiram Nós devido à sua crítica ao comunismo e ao autoritarismo. A obra era vista como uma ameaça à ideologia oficial do bloco.
Na China. Embora não haja registros detalhados, é provável que Nós tenha enfrentado restrições na China, especialmente durante a era Mao e a Revolução Cultural (1966-1976), quando qualquer crítica ao comunismo ou ao controle estatal era fortemente censurada.
Nós, talvez inspirado em A Nova Utopia de Jerome, provavelmente influenciou Aldous Huxley para produzir, em 1932, Admirável Mundo Novo e, com mais certeza, George Orwell, levando-o a escrever 1984, publicado em 1949.
Aliás, há uma resenha do livro Nós, de Zamyatin, escrita por Orwell e publicada na revista Tribune em 4 de janeiro de 1946. Aliás, foi Orwell que levantou a hipótese de que o livro de Zamyatin deve ter influenciado Huxley. Na Tribune ele (Orwell) escreveu:
“A primeira coisa que alguém notaria em Nós é o fato — nunca apontado, creio eu — de que Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley , deve ter sido parcialmente derivado dele. Ambos os livros tratam da rebelião do espírito humano primitivo contra um mundo racionalizado, mecanizado e indolor, e ambas as histórias supostamente se passam daqui a cerca de seiscentos anos. A atmosfera dos dois livros é semelhante e, grosso modo, trata-se do mesmo tipo de sociedade que está sendo descrita, embora o livro de Huxley demonstre menos consciência política e seja mais influenciado por teorias biológicas e psicológicas recentes”.
Na comunidade alterdidática de aprendizagem chamada Clube de Leitura das Distopias vamos investigar, do ponto de vista da democracia, quais foram os padrões autocráticos presentes no livro de Zamyatin que também aparecem em outras distopias, como as de Huxley e Orwell. E, mais do que isso, verificar quais são esses padrões que viraram realidade no totalitarismo stalinista e em outros autoritarismos do século 20 e, inclusive, do século 21. Zamyatin, nesse sentido, revelou alguns códigos de deciframento dos processos de autocratização que não foram tratados pelos teóricos da ciência política que vieram antes e depois dele.
Você também pode participar do Clube de Leitura das Distopias. Basta clicar no link abaixo e - se for o caso - fazer sua inscrição. As vagas são limitadas. E o clube vai começar a funcionar em 6 de novembro de 2025.