A palavra ‘netwar’ apareceu pela primeira vez num paper de John Arquilla e David Ronfeldt (1996), intitulado The Advent of Netwar, como um relatório da Rand Corporation. Os autores acertaram ao prever que a “netwar pode ser o modo dominante de conflito social no século 21”. E acrescentam que “noções tradicionais de guerra e conflito de baixa intensidade como um processo sequencial baseado em concentração, manobras e combates provavelmente se mostrarão inadequadas para lidar com conflitos não lineares, do tipo enxame, da era da informação, nos quais elementos sociais e militares estão intimamente interligados”. Não podiam imaginar, àquela altura, que a netwar fosse a forma da segunda guerra fria que se instalou mais claramente na passagem da segunda para a terceira década do século 21.
Sobre isso, podemos dizer agora o seguinte:
1 - A netwar é a forma da segunda guerra fria que está em curso.
2 - A segunda guerra fria não é um repeteco da primeira. Não é o conflito entre campos geograficamente demarcados e sim a divisão das sociedades introduzida pela polarização, que pervade todas as fronteiras.
3 - A segunda guerra fria não é EUA X China no lugar de EUA X URSS. É uma campanha de exterminação das democracias liberais movida pelo eixo autocrático (Rússia, China, Coreia do Norte, Irã, Bielorrussia, Síria, Venezuela, Nicarágua, Cuba etc.)
4 - Pelo lado autocrático não é a China que está na vanguarda da netwar e sim a Rússia.
5 - A netwar não é apenas, nem principalmente, uma guerra pela internet e sim social mesmo - uma guerra que se instala dentro das sociedades. As redes sociais não são as mídias sociais e sim pessoas interagindo por qualquer mídia; ou seja, são as sociedades (que se descobriram como rede com o aumento dos graus de distribuição, de conectividade e de interatividade).
6 - O que chamamos propriamente de 'social' não é a coleção dos indivíduos e sim o que acontece entre eles para que se tornem pessoas (entes individuais-interagentes, quer dizer, sociais).
7 - Eventos como a segunda eleição de Trump nos EUA não podem ser completamente explicados fora do contexto da netwar.
Esta nota foi redigida por Augusto de Franco, do staff de Inteligência Democrática.