Pesquisas de intenção de voto
O mais poderoso recurso de campanha já inventado
Independentemente do resultado, o mais interessante nas eleições de ontem (26/10/2026) na Argentina foi a frustração das expectativas: de alguns. Mas expectativas não caem do céu. Quem criou as expectativas? Institutos de pesquisa de opinião, analistas, jornalistas e torcidas organizadas. Era campanha.
Campanha de alguns, por certo. Pois os institutos de pesquisa de opinião nem erraram tanto assim. O jornal argentino Clarín reuniu as últimas 10 pesquisas eleitorais. No compilado no veículo argentino, o partido de Milei tinha, em média, uma vantagem de 2,2 pontos sobre Fuerza Patria (37,1% contra 35% de La Libertad Avanza. O levantamento da CB Consultora Opinión, que anteriormente mostrava uma tendência de vitória da oposição, deu na última pesquisa o partido de Milei com 40,8% das intenções de voto contra 35,4% dos partidos peronistas. Uma pesquisa do instituto AtlasIntel, divulgada nesta sexta-feira, 24, mostra o partido La Libertad Avanza com 41,1% contra 37,2% da Fuerza Patria. O levantamento captou a intenção de voto de 6.526 argentinos adultos entre os dias 15 e 19 de outubro. No caso as expectativas foram criadas mais pelas torcidas peronista e de seus aliados populistas de esquerda, divulgadas pelos meios de comunicação: na Argentina, no Brasil e alhures.
A criação de expectativas é o mais eficaz movimento em uma campanha eleitoral. Por isso, diga-se o que se quiser dizer, os institutos de pesquisa de opinião e a interpretação de seus resultados, feita por analistas e divulgada por jornalistas, são o mais poderoso recurso de campanha que já foi inventado.
Não falo de pesquisas inconfiáveis, tendenciosas, fraudulentas. Digo que o sistema todo reverbera, criando expectativas, mesmo quando seus operadores, intérpretes e divulgadores são “as almas mais honestas do planeta”.
Por exemplo, pesquisas de intenção de voto feitas com grande antecedência, quando ainda não se sabe quais serão os candidatos - ou, pior, quando já se sabe qual será apenas um candidato - são, objetivamente, peças de campanha eleitoral desse candidato, mesmo que os pesquisadores não tenham a intenção de fazer isso.
Não é necessário fraudar uma pesquisa para criar esse tipo de expectativa. A época em que é feita uma pesquisa, o tipo de pergunta que ela faz, as perguntas que ela não faz, a ordem das perguntas, as opções listadas, as opções não listadas e a ordem das opções apresentadas aos entrevistados, determinam ou condicionam, em grande parte, os resultados.
“Ah! - dizem os especialistas dos institutos de pesquisa de opinião - mas estamos tirando apenas uma fotografia do momento capaz de fornecer elementos para captar tendências”. Não! Vocês, querendo ou não, estão fazendo campanha eleitoral.



