Isso aqui tem que ser analisado friamente. Não obstante tudo que aconteceu, a USP estima que, nas manifestações bolsonaristas de ontem (03/08/2025), 37,6 mil pessoas estiveram presentes na Avenida Paulista e o PoderData calcula 56 mil. Ambos os institutos registraram um aumento de mais de três vezes no público com relação ao último ato bolsonarista no local (em 29 de junho, a USP calculou pouco mais de 12 mil e o PoderData estimou 16,4 mil pessoas presentes na mesma avenida). Mas ocorreram manifestações, mais ou menos expressivas em muitas capitais, não só em São Paulo.
Depois do final de junho houve a “traição” do Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro teve de usar tornozeleira e sua condenação e prisão estão cada vez mais próximas, aconteceram os ataques absurdos de Trump, correu solta a propaganda massiva pró-governo nas TVs com demonização do bolsonarismo. Mesmo assim, não se registrou uma melhora significativa na aprovação de Lula (que continua com 40% de ruim ou péssimo contra 29% de ótimo ou bom, segundo o último Datafolha).
A tática de jogar pobres contra ricos não funcionou (porque a maioria da população não se vê como pobre - que, no Brasil, é sinônimo de miserável). A tática populista nacionalista, de jogar o Brasil contra os Estados Unidos, estimulando o sentimento patriótico da população, também não está funcionando como se esperava.
As ruas são, apenas, mais um termômetro. O lulopetismo não consegue colocar uma quantidade de pessoas nas ruas, equivalente a que coloca o bolsonarismo, porque criou uma tal irritação na população com seu comportamento sectário que ninguém está disposto a investir energia para apoiá-lo (muitos eleitores independentes podem até acabar votando em Lula, se não houver uma opção crível não-bolsonarista, mas não se mexem).
Tudo isso significa: a) que não haverá decrescimento do antipetismo; b) que o PT vai radicalizar ainda mais à esquerda, achando que as eleições de 2026 são um caso de vida ou morte para o partido.
É o que prevíamos há quase dois anos: o PT vai simular uma situação pré-revolucionária e vai se comportar condizentemente com essa realidade fabricada. Por incrível que pareça estamos voltando ao início dos anos 1980, com o PT se comportando como um grupo revolucionário (anti-imperialista e anti-capitalista), com a diferença de que agora não há mais uma ditadura militar, o partido está no governo e possui os meios para sustentar uma guerra civil fria contra uma parte da população (entre esses meios, a aliança com o STF, um sistema de governança para-oficial que inclui os maiores veículos de comunicação profissionais, o comando dos órgãos reguladores e da política externa).
O PT sabe, porém, que em condições normais Lula perderá a eleição de 2026 - não para o bolsonarismo e sim para o antipetismo. Só lhe restou investir na criação de condições anormais. Perigo à vista.
Após a tornozeleira no calcanhar, imbecís bolsonaristas acham que ele é vítima de um sistema democrático injusto, que não tolera golpe de Estado para dissolvê-lo e transformar o mito (criminoso do dinheiro vivo) em ditador como Maduro, que ele tanto critica.