Por que Globo News?
Publiquei o artigo abaixo no X ontem (15/12/2024) de manhã (às 07h56). Neste momento em que escrevo ele está com 163 mil impressões, 10.029 engajamentos, 3 mil e 510 curtidas, 886 compartilhamentos e 248 comentários. Cito esses dados porque indicam que muitas pessoas estão preocupadas com o assunto.
POR QUE GLOBO NEWS?
Tenho amigos e amigas na Globo News e já participei, presencialmente, de vários programas do canal a partir de 2013. Por isso é sempre chato tratar do assunto deste post, mas agora me parece necessário. Não citarei nomes.
Segundo levantamento do Poder360 (publicado em 09/08/2024), em janeiro de 2024 a Globo News tinha até 125.766 espectadores, em média. No início de agosto tinha no máximo 93.160. Ou seja, o que chamamos de 'povo' não assiste. Então quem assiste?
A Globo News consegue agora atingir, talvez, cerca de 10% da população politicamente ativa (a PPA). Cabe esclarecer que a PPA não é composta pelos que apenas votam, comparecem a comícios, acompanham o noticiário político, conversam eventualmente sobre temas políticos e sim pelos que atuam politicamente de alguma forma regular ou sistemática, seja proferindo opiniões e participando do debate público (por exemplo, publicando nas mídias tradicionais ou sociais), seja articulando e animando movimentos políticos na sociedade, seja se candidatando ou promovendo candidaturas, seja pleiteando ou sendo nomeados para cargos no Estado etc.
Como o canal resolveu - por algum motivo - fazer parte, organicamente, do sistema de governança do governo do PT, parece que não se importa tanto com audiência. É uma TV que não tem como objetivo informar o grande publico na medida em que funciona como instrumento de governo voltado a replicadores (hubs).
Serve também para dar a linha para militantes e simpatizantes dispersos do partido governista e de partidos aliados, para pautar a imprensa no nível nacional e nas cidades do interior e para desencadear a formação de caixas de ressonância nos meios políticos "progressistas", universitários, intelectuais, jornalísticos, sindicais e de movimentos sociais e ONGs, jurídicos e artísticos. É o lugar adequado para ministros do governo e do STF venderem - sem contestações - suas versões dos fatos em longas entrevistas. Ao mesmo tempo em que legitima ações governamentais, mantém viva a chama da polarização, requentando - às vezes durante semanas - temas que deslegitimam qualquer contestação ao governo.
Com honrosas exceções (que confirmam a regra), ali encontramos hoje, entre tantos outros funcionários normais de qualquer meio de comunicação: a) uma porção de militantes: que compõem a infantaria petista no jornalismo; b) colaboracionistas: que prestam o serviço de fazer propaganda do governo, não raro telepautados por "fontes" oficiosas e oficiais; e c) comentaristas ideológicos: que gostariam de ser dirigentes políticos e querem salvar o PT e o governo de si mesmos, sempre dando conselhos para que não cometam erros e se saiam bem.
Por que aconteceu isso com a Globo News não se sabe bem. Ao longo da história sempre tivemos meios de comunicação favoráveis a governos. Faz parte do jogo em qualquer democracia. O que há de novidade agora é que temos meios de comunicação (como a Globo News) que não estão apenas alinhados ao governo, mas que – para todos os efeitos práticos – objetivamente fazem parte do (sistema de governança do) governo.
Pode-se dizer que isso que a Globo News passou a fazer não é propriamente jornalismo. Ou que é o tipo de "jornalismo" praticado, por exemplo, em Angola ou em outras autocracias eleitorais. Mas por quê se vivemos numa democracia?
Assistir à Globonews dá até constrangimento.
Parabéns pela especular matéria jornalística.