Quem quer um Estado democrático de direito palestino?
Por que o conflito no Oriente Médio não tem solução à vista
Temos 14 ditaduras (autocracias eleitorais ou autocracias fechadas) no Oriente Médio: Afeganistão, Arábia Saudita, Barein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Síria e Turquia (esse número subiria para 16 se considerássemos os regimes de Gaza e da Cisjordânia). Só há uma democracia: Israel.
Entretanto, a democracia de Israel é cadente, seja porque o país está em guerra, seja porque o governo Netanyahu é populista-autoritário e refém de supremacistas judaicos. Sem esses tarados antidemocráticos e belicosos, como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, Benjamin Netanyahu perde a maioria, o atual governo cai e ele vai ter de enfrentar sérias acusações de corrupção, podendo até ser preso. Então o que se diz é que Bibi não tem o menor interesse em parar a guerra, pois perderia a maioria para governar (já que os supremacistas que o apoiam não querem nem falar em acordo de paz e sim um Estado judeu do rio ao mar).
Mas independentemente disso há uma guerra do Irã contra Israel, operada por cerca de 15 organizações terroristas homiziadas em boa parte das ditaduras do Oriente Médio citadas acima (sim, não são apenas Hamas, Jihad Islâmica, Hezbollah e Houthis). A principal organização terrorista, que coordena toda a guerra operada por esses grupos terroristas contra Israel é a IRGC - Guarda Revolucionária Iraniana (Pásdárán), que é o verdadeiro centro de comando do regime teocrático dos aiatolás.
Mesmo que um governo de Israel (qualquer governo, até um governo democrático liberal que surgisse depois da eventual queda de Netanyahu) quisesse fazer a paz, não teria como convencer o Pásdárán a fazê-lo.
Mesmo que a maioria das ditaduras do Oriente Médio quisesse trabalhar pela paz e pela criação de um Estado palestino, o Pásdárán só concordaria com isso se esse novo Estado fosse uma ditadura subordinada ao Irã, que continuaria travando sua guerra para destruir Israel.
Portanto, a guerra no Oriente Médio só teria solução regional com a queda do regime teocrático iraniano.
Mas a questão é ainda mais complexa. Praticamente ninguém no Oriente Médio e nos aliados do Irã do eixo autocrático (como China, Rússia, Coreia do Norte etc.) quer um Estado democrático de direito palestino.
Não querem isso nem as distantes ditaduras de Cuba, Venezuela, Nicarágua, nem os governos populistas de esquerda do México, de Honduras, da Colômbia, do Brasil, da África do Sul etc.
Não querem isso nem os grupos antifascistas da sociedade civil que se articulam nas democracias americanas e europeias para apoiar a causa palestina.
Aceitariam talvez, no máximo, mais uma ditadura na região capaz de acossar continuamente a democracia israelense e, no limite, expulsar os judeus colonialistas do território que hoje ocupam.
Só os democratas liberais querem um Estado democrático de direito palestino convivendo pacificamente com o Estado democrático de direito israelense.
Uma conclusão se impõe: não se trata mais de uma guerra regional. Já é parte da segunda grande guerra fria mundial movida pelo eixo autocrático contra as democracias liberais.
Grata Augusto, seus textos são necessários e esclarecedores!