Sem ódio e sem medo
Roberto Freire, Inteligência Democrática (08/01/2025)
Houve uma campanha em Pernambuco, na qual me elegi deputado estadual, em que o nosso saudoso Marcos Freire, candidato a senador - um dos 16 senadores do MDB dentre os 22 eleitos na eleição de 1974, que abalou a ditadura militar - usou como lema da jornada "Sem Ódio e Sem Medo". Combatíamos a ditadura militar. Tenho, portanto, uma longa estrada percorrida e nunca, desde lá, me faltou coragem e não será agora que faltará.
Lembro tal fato como abertura de uma resposta a um cidadão que, no X, ficou inconformado com as críticas que faço às políticas de relações internacionais desastrosas do governo do presidente Lula, que busca romper com uma bem sucedida e duradoura - com pequenos hiatos de retrocesso - relações exteriores, comandada pelo Itamaraty, "independente, de defesa da democracia e de povo amante da paz". Não satisfeito de usar de certa agressividade, culmina em dizer que estou sendo covarde nas contestações como oposicionista que sou.
E então vai a resposta:
Você, senhor apoiador do governo, esta profundamente enganado.
Sem ódio e sem medo enfrento como um homem de esquerda - de honrada origem, no honrado PCB - uma esquerda lulopetista hegemônica que se perdeu no tempo e parece não ter visto a queda do muro de Berlim e nem a derrota do socialismo real com fim da URSS. Ainda defende ditaduras sem perspectiva histórica alguma - que nos seus estertores promovem a distribuição da pobreza e "onde falta quase tudo, em especial a esperança", como disse o grande escritor cubano Leonardo Padura em relação a Cuba - e o mesmo acontece na Nicarágua e Venezuela.
E jogam fora as raízes iluministas junto com a liberdade e a fraternidade, inclusive apoiando execráveis ditaduras de corte fascista como a de Putin na Rússia e fundamentalistas religiosas prenhes de preconceitos de toda ordem e em particular de total misoginia como a iraniana dos aiatolás. Sem falar nos velados apoios de uma minoria, e amplos de uma maioria, aos movimentos terroristas "jihadistas" - nome que traduzido é "guerra santa".
Por fim, Lula não irá a Venezuela para a posse do tirano Maduro, mas se fará representar - o que é um erro. Se o corpo diplomático for convidado pelo regime, como temos relações com a Venezuela - que devemos manter -, a nossa embaixadora se fará presente. Desta forma não há rompimento de relações, se cumprirá a liturgia diplomática e se resguardará uma minima dignidade política de não render homenagem se fazendo representar na posse de um tirano.
Tal gesto será o suficiente para que democracia não se torne palavra oca e destituída de significado no governo brasileiro.