Inteligência Democrática (20/08/2025)
O que está acontecendo com o STF é gravíssimo. Não é que tenha errado pontualmente, cometido um excesso aqui e ali, pesado a mão em uma ou outra situação, ultrapassado a necessária autocontenção que deve nortear o comportamento de uma suprema corte. Há um novo arranjo de poder sendo montado no Brasil . E os arquitetos desse arranjo não são apenas alguns ministros salientes e irresponsáveis do supremo tribunal, siderados pelo poder sem limites (porque sem controle externo de facto), infectados pela ideologia da "democracia militante" ou deslumbrados com o papel iluminista auto-atribuído de civilizadores contra-majoritários da sociedade brasileira. Não! Isso só pode estar acontecendo porque há um governo populista de esquerda no Brasil que não aceita o critério da rotatividade ou alternância democrática e tem um comportamento hegemonista visando a ocupar as instituições para convertê-las em instrumentos do seu projeto de poder. Essa aliança política espúria entre judiciário e executivo, que visa compensar o fato de que o governo é minoria no parlamento federal, nos parlamentos e governos estaduais e municipais, nas mídias sociais e nas ruas, está desativando os mecanismos de freios e contrapesos da nossa democracia, deprimindo seu sistema imunológico a tal ponto que ele não possa mais fornecer proteção eficaz, não propriamente contra golpes de Estado à moda antiga (como tentou o bolsonarismo) e sim contra a conquista de hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido para se delongar indefinidamente no governo (como pretende o lulopetismo). Certos de que, em condições normais, perderiam as eleições de 2026, Lula e o PT estão criando, com a ajuda do STF, condições anormais para a realização do próximo pleito, mesmo que isso implique um apoio explícito ou tácito, por conivência ou leniência, aos atropelos constitucionais cometidos pela corte. Com o propósito de evitar um golpe imaginário (ou um "golpe continuado", na narrativa solerte inventada por dirigentes partidários e repetida por ministros do STF), estão tentando eliminar, na verdade, a possibilidade de perder as próximas eleições.
Um pedido aos leitores de Inteligência Democrática
Infelizmente, ainda são poucas as publicações no Brasil com análises como a que foi transcrita acima. Poucas estão livres da polarização tóxica entre dois populismos (o lulopetismo e o bolsonarismo) a ponto de poderem fazer, sistematicamente, oposição democrática ao governo realmente existente (e não apenas ao governo passado) - quando se sabe que não existe democracia sem oposição democrática. Poucas estão empenhadas na defesa da democracia como valor universal, tanto como regime político (ou modo político de administração do Estado), quanto como modo-de-vida.
Existem, sim, algumas publicações não-populistas que fazem críticas ao governo. Algumas delas, dirigidas por pessoas que se dizem liberais de esquerda (em geral de centro-esquerda) se especializaram em neutralizar o voto antipetista não-bolsonarista em 2026. Batem 24 horas por dia no governo passado e poupam de críticas o governo atual (sob a desculpa de “não dar munição ao inimigo”) visando a impedir que aquela pequena parcela de eleitores moderados, que pode fazer a diferença em uma eleição apertada, deixe de votar em Lula. Seu foco são os 5 a 10% de eleitores de centro. Para ganhá-los dizem que Lula não seria o candidato ideal, mas na hora H - sob lamentos - indicarão o voto em Lula como o único capaz de evitar a volta do bolsonarismo (mesmo que o candidato concorrente com Lula com chances de vencer não seja um bolsonarista, mas esteja apenas querendo herdar os votos antipetistas dos antigos eleitores de Bolsonaro). Ao abrirem mão de fazer oposição democrática ao governo realmente existente (porque empregam todo seu tempo criticando apenas o governo que não existe mais) esses liberais de esquerda estão, objetivamente, fazendo a campanha Lula 2026. E estão matando a possibilidade de surgimento de uma alternativa democrática não-populista, não só para 2026, mas também para 2030 e além. Nossos leitores podem ficar certos de que a revista Inteligência Democrática não fará isso.
Estamos convencidos de que é necessário manter em funcionamento publicações - como esta Revista Inteligência Democrática - que defendam a democracia, não só contra as investidas autoritárias, mas também contra os ataques dos populistas (digam-se de direita ou de esquerda) - entendendo que os populismos do século 21 (o nacional-populismo e o neopopulismo) são os principais adversários da democracia liberal.
Mas para poder continuar publicando artigos e notas nessa linha, várias vezes por semana, sem financiamento e sem publicidade, Inteligência Democrática precisa do apoio dos leitores que acham que vale a pena sustentá-la, mesmo que não concordem, total ou parcialmente, com o conteúdo do que é publicado. Simplesmente porque acham que vale a pena, a partir da avaliação de que isso aumenta a diversidade de pontos de vista e a pluralidade no debate democrático nacional.
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O fato é que, ter posições políticas claras, parece ser aos olhos de muitos, um erro, posto que atrai oposições. Então mantém-se no centro, escondem-se no projeto de democracia, mantendo-se a distância e aproximando-se quando a hora derradeira chegar - aquela da participação no poder. Provavelmente ser assim, apartidário, ou democrata equidistante, (centro-esquerda ou centro-direita) facilitará o agregamento futuro a quem quer que seja. Infelizmente, ser político no Brasil é não assumir projeto algum e navegar de acordo com a maré. É uma boa estratégia, afinal, na paródia, o "democrata" não deseja naufragar, pois ama a sua própria vida. Deveriam, nos mmentos em que estiverem na orla ou no cais, desenvolverem um projeto para o Brasil, para então colocarem o barco no mar. Terá chances de alcançarem o poder, aqueles que forem claros em suas intenções, apresentando ao eleitor um projeto consistente. Só agarrar-se a democracia - louvável - não é o suficiente. Por exemplo, o democrata Romeu Zema, é claro em relação a tirar das ruas todos que o incomodam, como um projeto: moradores de rua incomodam e impedem o cidadão em suas movimentações - direito de ir e vir. Então, o futuro candidato, vai para as ruas e já anuncia: na minha gestão não haverá moradores de rua, em nome da democracia.