Uma polarização nefasta
Gilberto Natalini (25/05/2024)
O Brasil tem problemas políticos, econômicos e sociais enormes. E isso já vem há muito tempo.
Nosso sistema político está ultrapassado, com vícios históricos como o fisiologismo, a corrupção, o nepotismo, entre outros.
Nosso sistema partidário criou organizações políticas que não representam os anseios do povo, mas sim de seus mandatários, que se utilizam da vida política colocando seus interesses na frente dos interesses do país.
Nossas eleições também têm vários vícios que, muitas vezes, elegem pessoas que não representam a vontade da maioria.
Todos esses desvios se devem a muitos fatores, mas, principalmente, à manipulação das instituições por grupos do poder econômico, ou seus serviçais, e também ao estágio da pouca compreensão política e da baixa consciência social do nosso povo.
Na questão econômica, a situação não é menos grave.
O Brasil é um grande país, com uma economia poderosa, baseada principalmente na área rural, mas com uma grande diversidade.
Porém, a desigualdade social disputa o campeonato mundial da pobreza.
O acúmulo da riqueza nas mãos de poucos, por aqui, é obsceno.
Essa desigualdade é causada por vários fatores: baixo grau de escolaridade, falta de oportunidades, racismo, misoginia, violências de todos os tipos. Mas a causa principal dessa desigualdade é o modelo econômico vigente, onde o rentismo e o tal “mercado financeiro” abocanham quase 50% das riquezas nacionais produzidas, a título de pagamento de juros e amortização de uma dívida pública, que quanto mais se paga, mais se deve.
A massa de brasileiros que vivem na pobreza, na ignorância e na exclusão é enorme.
Os dois fatores anteriores – político e econômico – se refletem diretamente nas mazelas sociais que nós vivemos. E são muitas!
Dessa forma, temos milhões de brasileiros em insegurança alimentar, tendo às vezes só uma refeição por dia.
São cerca de 10 milhões de pessoas que vivem áreas de riscos, expostas aos fenômenos climáticos extremos. Exemplos não faltam.
Pela precariedade das condições de vida, o povo brasileiro tem sofrido muito com as epidemias (covid, febre amarela, dengue) e a desassistência nas doenças crônicas (hipertensão, diabetes, tumores).
A violência faz parte do nosso dia a dia, no campo e nos centros urbanos. A criminalidade avançou tanto que o crime organizado se institucionalizou, adentrando aos Poderes da República e às comunidades e cidades.
Nesse quadro dramático, que é real, a pátria brasileira não consegue construir um Projeto de Nação que possa nos salvar dessa calamidade.
Depois da redemocratização, embora tenhamos tido avanços em várias áreas cometemos vários erros que nos mantiveram no atraso.
Há poucos anos criaram, importando e implementando, uma tal polarização, entre uma “direita” atrasada, populista, corrupta e truculenta, que defende facetas do fascismo e da barbárie, e uma “esquerda” fisiológica, populista e corrupta, que acena para a justiça social, mas caminha junto com o mercado financeiro e com o que há de mais retrógrado das autocracias do mundo.
Essa polarização criada e meticulosamente planejada, onde um polo depende do outro para sobreviver, está fazendo um mal extremo ao Brasil.
As mentiras, as fake news, a cultura do ódio, o debate político rasteiro e infértil, a institucionalização dos atos de corrupção e de violência, e a falsa moralidade tomaram conta da sociedade brasileira, numa escalada de narrativas, que vão corroendo as verdades históricas e a autoestima do Brasil.
Eu, desde o início, me coloquei fora desses polos.
Defendo o que sempre defendi para o país:
- Democracia sempre;
- Menor desigualdade social com qualidade de vida;
- Desenvolvimento econômico com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente;
- Moralidade pública.
Tenho certeza que esse momento nefasto vai passar. A tarefa é reconstruir o centro democrático.
Num debate corajoso e franco vamos ganhando o coração e as mentes de nossos compatriotas, que chegarão ao bom senso para sairmos dessa situação.
Gilberto Natalini é médico e ambientalista.