Vamos acabar com a hipocrisia
Quem não gosta de democracia não pode denunciar a falta de democracia
Já encheu a paciência essa hipocrisia. "Ah! O Brasil não é mais uma democracia". Ué! Você queria democracia? Então por que votou num candidato que elogiava a ditadura militar e continua apoiando ele?
O engraçado na fala dessas pessoas que dizem que o Brasil não é mais uma democracia é que elas: a) não sabem bem o que é democracia; e b) não estão convertidas à democracia, pois gostariam de outro tipo de regime político, comandado por um homem forte que restabeleça os valores da ordem, da família, da igreja, da pátria - se preciso for atropelando direitos políticos e restringindo liberdades civis. Ora… isso pode ser tudo, menos democracia.
Essas pessoas hipócritas, que não gostam de democracia, mas denunciam a falta de democracia, em geral, são ignorantes: não sabem a diferença entre regime político e governo. O regime político brasileiro era uma democracia no governo Bolsonaro, que gostava de ditadura. Era uma democracia não-plena e não-liberal, mas uma democracia.
O regime político brasileiro continua sendo uma democracia, conquanto não-plena e não-liberal, durante o governo do populista Lula, que admira ditaduras como Cuba, Venezuela, Nicarágua, Angola, China, Irã e quer ser amigo do autocrata e assassino Vladimir Putin.
O regime político americano era uma democracia, conquanto não-plena, durante o primeiro governo Trump, que é um populista-autoritário. E continua sendo uma democracia no segundo governo Trump, cada vez mais alinhado ao ditador Putin e adversário das democracias liberais.
Da mesma forma, o regime político israelense continua sendo uma democracia durante o governo Netanyahu, outro populista-autoritário, aliado a supremacistas judeus. Uma democracia, sim, embora não-plena e agora não mais liberal.
Sim, Israel não é mais uma democracia liberal (segundo o V-Dem) e já não era uma democracia plena (segundo a EIU - The Economist Intelligence Unit). Agora está correndo o risco de virar uma autocracia eleitoral (V-Dem) ou um regime híbrido (EIU). Para que isso não aconteça, a sociedade democrática israelense tem de arrumar um meio, urgente, de remover Netanyahu do governo. Se acontecer perderemos a única democracia do Oriente Médio. É triste, não apenas para os israelenses, mas para todos os judeus da diáspora - pois o antissemitismo só tende a crescer nessas circunstâncias.
E é triste também para os democratas, que se preparam para viver numa espécie de diáspora em relação aos regimes que se autocratizam em todo mundo.
Quem é realmente um democrata não pode vestir o boné MAGA. Não pode elogiar o autoritário Bukele. Não pode se aliar ao autocrata eleitoral Orbán. Não pode torcer por Le Pen (na França), Farage (no Reino Unido), Wilders (na Holanda), Weidel (da AfD na Alemanha), Ventura (de Portugal), Abascal (da Espanha), Modi (da Índia), Fico (da Eslováquia), Erdogan (da Turquia), Putin (da Rússia). Porque todo esse pessoal é contra a democracia liberal - agora, infelizmente, com a ajuda de Trump (dos EUA).
Bolsonaro e Lula são odiosos. Quando Bolsonaro ganhou destaque popular, um político do baixo-clero, saído direto das catacumbas escuras da câmara dos deputados, surfando às custas do trabalho da Lava-Jato e da indignação contra a roubalheira e a ideologia mofada do PT, eu desconfiei. Mesmo enojada de Lula, do PT e gangue, eu ainda senti repulsa daquele capitão grotesco e nunca gostei do tom do discurso dele. Assim, eu anulei o meu voto em 2018. Mas, infelizmente, mesmo assim Bolsonaro ganhou porque as pessoas não enxergaram as outras opções. Daí, ele cheio de poder, pirou e barbarizou. Era uma encrenca por semana, lembram? Foi um governo estressante. Então, veio a pandemia, veio nomeação daquele PGR asqueroso (Aras), que era petista e que chegou até a escolha de Bolsonaro por indicação do Flavio Bolsonaro, que estava metido em escândalos de corrupção com rachadinhas, milícias e etc. Aras agiu e então veio a destruição da Lava-Jato para proteger os filhos de Bolsonaro, já que as investigações foram tomando novos rumos diferentes e estavam chegando perto da família presidencial. Daí, tb veio o apoio dos Bolsonaros para soltar Lula, para gerar polarização e manter o povo refém de ter que sentir medo do ex-condenado e apostaram que o povo iria preferir continuar com eles. A família Bolsonaro tb inviabilizou a Lava Toga, que serviria para, de forma constitucional, jogar uma água fria na sanha de poder crescente dos ministros do STF. Naquele tempo Bolsonaro e Flávio ligaram para cada senador com ameaças para que eles retirassem suas assinaturas da instauração da Lava-Toga. O senador Major Olímpio, que faleceu de Covid-19, contava, explicitamente, que ele foi um dos senadores ameaçados e que, assim como alguns outros poucos senadores, enfrentou a pressão da familia presidencial e não retirou a assinatura da Lava Toga. Mas, mesmo assim, a pressão dos Bolsonaros funcionou com outros senadores covardes e a Lava Toga foi extinta. Ligo em seguida a Lava-Jato também foi extinta. Veio a pandemia e tds já conhecem o resto.
Lula já solto, virou candidato e foi ungido pelo STF (com a anuência dos Bolsonaros que queriam chantagear o povo com um ex-presidiário para serem escolhidos). O povo idiota e sem enxergar outras saídas, esqueceu toda a corrupção petista, virou a cabeça, tapou o nariz e votou em Lula. E eu, de novo, anulei meu voto em 2022 também, por sentir repulsa dos dois candidatos: o ex-presidiário e o maluco da gripezinha. Fui xingada e ameaçada por militantes dos dois lados. Cancelei perfis no FB e no Twitter por ameaças sérias vindas de petistas e de bolsonaristas. Perdi amizades por me recusar a aderir a ideologias e por não defender nenhum lado. Mesmo assim, o povão desmemoriado e, de novo, iludido votou no Lula para tirar Bolsonaro, MESMO SABENDO QUE HAVIAM OUTROS CANDIDATOS! E Bolsonaro viu sua artimanha de chantagear o povo com um ex-presidiário ir por água abaixo. Como uma manada de bois, o povo se viu empurrado para apenas dois caminhos, ignorando e descartando todas as outras opções. Votaram no ex-condenado. E agora estamos nisso, por nossa própria culpa. Pois o povo brasileiro é míope, vota com o fígado, não gosta de ler, tem preguiça mental e memória muito curta. Mas, fico feliz por ver mais gente finalmente está enxergando como a política brasileira é imunda e como nossos políticos (escolhidos por nós, por nosso fanatismo e nossa ignorância) são uma escória e que os ministros são um lixo. Infelizmente, os idiotas, os fanáticos, os desmemoriados e com pouca cognição ainda são muitos.
Eu não duvido que Lula, para tentar ganhar de novo, faça o mesmo truque e reabilite Bolsonaro para concorrer contra ele, chantageando a população pelo medo para ter que escolher entre os dois.
Não, eu não sou a favor do teatrinho político chamado democracia
Sou de tolerar alguma forma de república, desde que muito limitada.
O sistema de votos pode ser via democracia orgânica, mas seria até dispensável a depender da organização política.
A democracia não morreu. Morreu a farsa das instituições que sempre a sustentaram