A conjuntura pode mudar novamente
Se o ataque de Trump ao Brasil tivesse acontecido em julho do ano que vem, o caminho de Lula para a reeleição com base na defesa da soberania estaria pavimentado.
Ocorre que ele está ocorrendo 14 meses antes do próximo pleito. Para manter esse clima de defesa do Brasil com base na patriotada fácil, que recebe aprovação (e intenções de votos) por gravidade, Lula e o PT terão que esticar a beligerância com Trump (e o imperalismo norte-americano) durante muito tempo.
Isso significa que Lula e o PT não podem trabalhar de verdade pelo entendimento, pela celebração de acordos, pela superação da polarização e pelo estabelecimento de um novo patamar de relações diplomáticas civilizadas. Mas como manter a guerra com os EUA (guerra retórica, mas também política, diplomática e comercial - se houver reciprocidade ou outra forma de retaliação às sanções, que podem ser retrucadas com novas sanções americanas), por um período tão longo?
Manter esse clima beligerante por mais de um ano parece insustentável diante dos prejuízos econômicos (e não só) envolvidos.
Consequência. Lula e o PT, já que obviamente não podem prevalecer numa disputa tão desigual com os americanos, terão de fazer uma flexão na sua posição instrumental.
Logo, a "salvação" da soberania (agora no lugar da "salvação" da democracia) tende a deixar de ser uma fonte copiosa de admiração popular com o abrandamento do conflito.
Em julho de 2026 (mas até antes), com Bolsonaro preso e Trump ameaçando outras democracias, Lula e o PT terão menos de quatro meses para inventar um novo Inimigo Público Número 1 com o fito de angariar os necessários votos independentes e vencer as eleições na base do "nós contra eles".
Convenhamos, é bem difícil.
Isso significa que, se a conjuntura mudou favoravelmente a Lula e ao PT - como falamos no artigo A conjuntura está mudando, publicado há quatro dias aqui na Inteligência Democrática -, ela pode mudar de novo, desfavoravelmente ao governo, em breve.
Eu conto com o derretimento total do condenado, a prisão do mentecapto e o milagre de surgir um candidato a presidência que seja capaz de dar um passo à frente.