Augusto de Franco, Threads (08/09/2024)
1 - O PT achou que seu caminho para o poder eterno estava traçado e era suave. Ganhar eleições sucessivamente, se delongar nos governos, ocupar as instituições e nelas fazer maioria para modificá-las por dentro, arrebanhar as massas mesmerizadas pelo grande líder e colonizar as consciências das pessoas com suas narrativas (ou seja, conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido).
2 - Mas eis que ocorreram tropeços imprevistos nesse caminho. Mensalão, petrolão, prisão dos principais dirigentes do PT por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, desastre do governo Dilma e impeachment - e prisão de Lula. O PT voltou, salvo pelo STF, mas teve revezes eleitorais em 2018 e 2020. Ganhou em 2022, por menos de 2% de vantagem, mas não com força própria e sim com os votos dos democratas que não queriam a reeleição de Bolsonaro.
3 - De sorte que, em 2024, o PT caiu na real ao avaliar sua situação. Descobriu-se minoria no Congresso, nos parlamentos e governos estaduais e municipais, nas mídias sociais e nas ruas. Aí viu que seu caminho traçado não seria tão suave assim. E constatou que tende a perder as eleições de 2024, com sérias repercussões em 2026. Não vai fazer prefeitos na quase totalidade das capitais e em muitas cidades importantes. Sentiu ameaçado o quarto mandato de Lula.
4 - A narrativa de dizer que estava salvando a democracia brasileira de um golpe de Estado a ser cometido pelo bolsonarismo perdeu força com o passar do tempo. Passados quase dois anos da intentona cenográfica do "Capimtólio", não há nenhum golpe de Estado à vista nos curto e médio prazos. Então foi preciso mudar a narrativa para dizer que o golpe agora são os "fascistas" ganharem eleições (pois poderão usar os cargos conquistados para dar o golpe).
5 - Então houve uma mudança na estratégia petista. Para contrabalançar uma correlação de forças que lhes é desfavorável, Lula e o PT tiveram que montar um sistema de governança baseado na partidarização da administração federal, das estatais e dos órgãos de controle, no STF e outros tribunais superiores e em canais de TV (como a Globo News que virou quase um anexo do Planalto, partes da CNN e de outras emissoras).
6 - As chances disso tudo dar errado são grandes, pois mesmo tentando privatizar partidariamente o governo e as instituições, Lula e o PT não controlam mais o voto popular. A troca de "programas sociais" por votos não está funcionando mais como antigamente. O mesmo, curiosamente, ocorreu na Venezuela, onde em Petare, em Caracas, na maior favela do Ocidente, extensos contingentes de eleitores chavistas, “pensionistas” da ditadura, não votaram mais em Maduro.
7 - Além disso, houve uma revolução (ainda que para trás, reacionária) promovida por grande parte do eleitorado, que quer mudar o sistema (mesmo sem saber explicar o que é o sistema) e usa o voto como arma para dar um curto circuito no processo de reprodução eleitoral do establishment ou dos já incluídos no condomínio da política profissional.
8 - Sabendo que essa força política emergente, difusa, não é organizada em padrões tradicionais e não tem acesso aos grandes meios de comunicação, o PT achou que a única solução seria dela retirar os meios que usa para travar a luta política (como as mídias sociais e os programas de mensagens). Eis a razão política da proibição do X que, aliás, foi comemorada efusivamente pelos militantes lulopetistas (dando a maior bandeira).
9 - Depois da suspensão do X virá a regulamentação das demais mídias sociais, sempre com o pretexto de "salvar a democracia" do golpe de Estado, cuja ameaça permanecerá sempre presente (pois vai que um "fascista" vença as eleições e aproveite o cargo conquistado eleitoralmente para tramar a derrubada do regime).
10 - Há um problema, porém. Nada disso pode ser feito sem um incremento de restrições aos direitos políticos e liberdades civis dos cidadãos. Para levar a cabo tal estratégia é necessário desencadear uma transição autocratizante do nosso regime eleitoral (que, embora não seja liberal, também não é uma autocracia ou ditadura). Dificilmente a sociedade brasileira vai aceitar essa guinada. Por isso pode-se dizer que já deu errado!
O PT jogou a água do banho fora, com a criança dentro.
Acertou pela primeira vez, nossa "criança" - A democracia, já está a andar sozinha,
A nossa democracia cresceu tanto que não cabe mais nesta bacia gosmenta
Estamos ganhando "sustância".
Nos aguarde em 2026!
Eu não desisto!
E você?
Excelente artigo, Augusto.
Excelente!