Flávio: o candidato ideal para reeleger Lula
Mas só se não houver uma candidatura de centro democrático
A última pesquisa Genial-Quaest desanimou as expectativas eleitorais dos não bolsonaristas que se opõem à reeleição de Lula ao colocar Flávio Bolsonaro na frente dos demais pretensos desafiantes.
Claro que se deve olhar com cuidado esses resultados. O sobrenome Bolsonaro é mais conhecido. Além disso, pesquisas de intenção de voto, com mais de 9 meses de antecedência, prestam-se a todo tipo de especulação política, em especial para animar campanhas antecipadas de candidatos que já estão no palanque e destruir alternativas que nem ainda se apresentaram.
Não, isso não é mais informação para o eleitor decidir. O eleitor mesmo, por enquanto, não está no radar dos institutos de pesquisa. O que eles querem é pautar o debate político. Os resultados são logo amplificados pela caixa de ressonância que chamamos de mídia. E aí, o que poderia ajudar a captar uma tendência, vira argumento ou alegação para a seleção de candidatos e priorização de alianças. Ademais, muito além de captar, essas pesquisas temporãs criam expectativas. Desse jeito, é ruim para a democracia.
É óbvio, como já comentamos no artigo Pesquisas de intenção de voto (27/10/2025), que “a criação de expectativas é o mais eficaz movimento em uma campanha eleitoral. Por isso, diga-se o que se quiser dizer, os institutos de pesquisa de opinião e a interpretação de seus resultados, feita por analistas e divulgada por jornalistas, são o mais poderoso recurso de campanha que já foi inventado. Não falo de pesquisas inconfiáveis, tendenciosas, fraudulentas. Digo que o sistema todo reverbera, criando expectativas, mesmo quando seus operadores, intérpretes e divulgadores são as almas mais honestas do planeta”.
A análise política, entretanto, não é um ensaio sobre a cegueira. Vendo sempre os resultados das pesquisas, mesmo as feitas com grande antecedência, ela não pode se deixar contaminar pelo “impressionismo” e pelo clima de abafa criado por torcedores diante dos resultados, mas deve tentar captar o que está por trás dos movimentos políticos.
O que a análise política revela? Revela que Flávio Bolsonaro não é um candidato para vencer a eleição. É um candidato bolsonarista para impedir que algum candidato não bolsonarista que se oponha ao PT possa vencer a eleição. Se essa manobra der certo ele será o candidato ideal para reeleger Lula. Isso, claro, se não houver um candidato expressivo do centro democrático.
Os bolsonaristas sabem disso. Sua estratégia é que, não podendo ganhar com um candidato puro-sangue da famíglia, ninguém ganhe no campo da oposição. Ou seja, preferem manter Lula onde está, se desgastando até o fim num último mandato e manter a liderança da oposição para voltar em 2030 disputando contra um “poste” ou um substituto mais fraco.
O bolsonarismo avalia, portanto, que o pior não é perder para Lula e sim para um candidato do centro democrático - pois isso poderia isolar de vez sua facção, tornando-a uma força irrelevante no cenário político. O lulopetismo avalia que o pior não é perder para algum bolsonarista e sim para um candidato do centro democrático - mutatis mutandis, por motivos simétricos: um governo não populista sucedendo o governo Lula é como uma Ucrânia democrática nas barbas da Rússia.
A julgar pelas respostas a uma das perguntas da mesma pesquisa da Quaest, os bolsonaristas são hoje 12% e a direita não bolsonarista 21%, enquanto que os lulistas são 19% e a esquerda não lulista 14%. Tirando os 2% que não sabem ou não responderam, sobram 32% que a empresa chama de independentes.
Em termos de prognóstico puramente eleitoral, essa distinção entre uma esquerda lulista e uma esquerda não lulista não faz muito sentido se a esquerda não lulista tende a votar em Lula. No entanto a distinção entre uma direita bolsonarista e uma direita não bolsonarista faz algum sentido. Somados os votos de parte da direita não bolsonarista com parte dos independentes, se Lula não vencer no primeiro turno, Flávio Bolsonaro tende também a não passar ao segundo turno. Isso se houver um candidato de centro não bolsonarista capaz de crescer na campanha (e na pré-campanha).
E se houver um candidato de centro democrático que consiga atrair parte ponderável dos votos da direita não bolsonarista e dos independentes, Lula não tem chances de levar no primeiro turno. Pois ele precisa, para tanto, dos votos de centro, arrancados a contra-gosto diante da possibilidade de vitória de alguém da família Bolsonaro num segundo turno.
Esse é o foco da guerra eleitoral que se avizinha. Tanto os bolsonaristas quanto os lulopetistas vão tentar destruir qualquer alternativa democrática (não-populista, quer dizer, não-iliberal) que aparecer. Os democratas, por sua vez, devem apostar nisso todas as suas fichas - quando menos para abrir uma nova via democrática para 2030.
Se reeleito, Lula fará um governo instável, com crise fiscal, minoria parlamentar e dependência da suprema corte para aprovar seus projetos ou barrar as propostas oposicionistas (o que poderá levar a uma crise institucional). Uma oposição democrática inteligente e pujante (sem as loucuras bolsonaristas), saída das urnas de 2026 com “gosto de gás”, reconfigurará totalmente o cenário político nos próximos anos.
Se em 2026 não der nem Lula, nem algum Bolsonaro, melhor ainda. De qualquer modo, 2030 passa por 2026. Se 2026 for encarado para valer.




Muito boa análise.
A manter o filho candidato, mais uma vez mostra a preocupação com a família dele, a nossa é acidente de percurso