O sentido de existir
Bruno Fernando Riffel, Inteligência Democrática (05/10/2025)
A liberdade começa quando sua voz é reconhecida e quando você se percebe no outro. Cresce no diálogo entre os diferentes e floresce nas inovações que daí emergem.
A vida pode florescer mesmo sem autonomia política. Estar livre de correntes e ter acesso às necessidades básicas não são suficientes para a caracterizar liberdade. A ordem e a abundância de bens são insuficientes para medi-la. Um governante despótico pode assegurar a existência material, mas sem a convivência pública, só existirá a indesejada ordem, sem qualquer pluralidade.
No plano mais íntimo, a liberdade é o direito inalienável de pensar e julgar. Ninguém pode arrancar essa faculdade do ser humano. Negar a livre opinião e a investigação autônoma sufoca o motor da criação, o avanço das ciências e das artes. Como conciliar essa autonomia com a obediência às leis que sustentam a paz social? Pelo apoio à construção de regras que reforcem esse valor maior e pela sua atuação no controle do governo.
Uma comunidade se mede pela vitalidade de seu espaço público, pela expressão partilhada, pela interação efetiva, pela transparência mútua e pela riqueza das garantias coletivas. Onde a opinião é assegurada, a vida se distribui melhor: multiplicam-se as ideias, intensificam-se negócios e inovações, reduz-se as carências.
A autonomia pode ser sufocada por mecanismos de controle: impõe-se obediência, exige-se conformidade e submete-se a mente ao comando. Os populismos rebaixam cidadãos à subserviência em troca de segurança. Ameaças silenciosas avançam por meios legais, corroendo instituições sem armas visíveis. Sob o pretexto de eficiência, combate à desigualdade e proteção da estabilidade, extingue-se pouco a pouco o sentido da política — a liberdade.
Contra tais riscos, exige-se coragem: agir em público, reconhecer no outro — inclusive no adversário — um parceiro em potencial. Ingênuo seria entregar a autonomia em nome de uma oferta inviável.
A liberdade existe apenas quando exercida. O humano é o único ser vivo capaz de vivenciá-la. Ela se manifesta no pensamento que resiste à ordem, no respeito à diversidade, na disposição de viver sem prejudicar quem quer que seja. Hoje, apenas cerca de 1 bilhão de pessoas habitam democracias plenas.
Viver em liberdade é lançar-se ao risco do incerto, do imprevisível e do novo. É nesse processo que encontramos dignidade e o verdadeiro sentido da nossa existência.