No Clube de Leitura das Distopias vamos ler os livros malditos (por alguns) e que foram banidos em vários países e circunstâncias diversas. No primeiro capítulo da série abordamos o livro Nós de Yevgeny Zamyatin (1891). No segundo capítulo da série abordamos dois livros de George Orwell (1945 e 1949), Animal Farm (traduzido no Brasil como A Revolução dos Bichos e, mais recentemente, como A Fazenda dos Animais) e Nineteen Eighty-Four (1984).
Neste terceiro artigo da série vamos abordar o livro Admirável Mundo Novo (Brave New World) de Aldous Huxley (1932).
O livro Admirável Mundo Novo (Brave New World), de Aldous Huxley, publicado em 1932, enfrentou proibições e restrições em vários países devido à sua crítica à manipulação social, ao controle estatal, à perda de liberdade individual e a temas considerados controversos, como sexualidade e uso de drogas. Abaixo estão os principais locais onde o livro foi proibido ou censurado.
Na Irlanda. Na década de 1930, Admirável Mundo Novo foi proibido na Irlanda por ser considerado “imoral” devido às descrições de sexualidade livre, promiscuidade e o uso da droga fictícia “soma”. A forte influência da Igreja Católica no país na época levou à censura de obras com conteúdo considerado ofensivo aos valores morais.
Nos Estados Unidos. Embora não tenha havido uma proibição nacional, o livro enfrentou restrições em nível local, especialmente em escolas e bibliotecas. Durante as décadas de 1950 e 1960, e mesmo em períodos mais recentes, Admirável Mundo Novo foi desafiado em distritos escolares por pais e grupos conservadores que o consideravam inadequado devido a temas de sexualidade, críticas ao consumismo e visões distópicas. Por exemplo, foi removido de currículos escolares em estados como Texas e Alabama em diferentes momentos.
Na União Soviética e no bloco soviético. Embora menos documentado que as proibições de 1984 ou A Revolução dos Bichos, Admirável Mundo Novo também enfrentou restrições na URSS e em países do Leste Europeu durante a Guerra Fria. A crítica de Huxley ao controle estatal e à manipulação da sociedade por meio de tecnologia e conformismo era vista como uma ameaça aos regimes comunistas, que censuravam obras que desafiassem a ideologia oficial.
Na China. É provável que Admirável Mundo Novo tenha sido restringido na China, especialmente durante a era Mao e a Revolução Cultural (1966-1976), quando obras ocidentais críticas ao controle estatal ou que promoviam ideias de liberdade individual eram amplamente censuradas. Embora não haja registros específicos de uma proibição formal, o controle rígido sobre a literatura tornaria sua circulação difícil.
Na Coreia do Norte. Como sempre, não há registros públicos detalhados, mas, dado o controle extremo do governo norte-coreano sobre a mídia e a literatura, é praticamente certo que Admirável Mundo Novo seja proibido ou inacessível, devido à sua crítica a regimes autoritários e à manipulação social.
Nos países com regimes autoritários ou reacionários. Em algumas nações com governos autoritários ou reacionários, como certos países do Oriente Médio (por exemplo, Arábia Saudita) ou regimes militares na América Latina (como durante as ditaduras no Brasil, Argentina ou Chile nas décadas de 1960-1980), o livro pode ter enfrentado restrições devido a seus temas subversivos ou à visão crítica do consumismo e do controle estatal. No entanto, a documentação sobre esses casos é menos clara.
Na Índia. Há relatos de que Admirável Mundo Novo enfrentou críticas e tentativas de censura na Índia, especialmente por grupos que consideravam a obra ofensiva à cultura tradicional ou por sua representação de uma sociedade hedonista. No entanto, uma proibição formal em nível nacional não é bem documentada.
Em Cuba. Embora não haja registros específicos confirmando uma proibição formal de Admirável Mundo Novo em Cuba, é provável que o livro tenha enfrentado restrições, especialmente durante as décadas de 1960 a 1980, quando o regime de Fidel Castro censurava obras que criticassem o controle estatal ou promovessem ideias contrárias à ideologia revolucionária. Como Nós de Zamyatin e 1984 de Orwell, a crítica de Huxley à manipulação social e à perda de liberdade individual teria sido vista como ameaçadora.
O que é o livro Admirável Mundo Novo
Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley é uma distopia ambientada no Estado Mundial no ano de 632 Depois de Ford (D. F.), onde o lema é “Comunidade, Identidade, Estabilidade”. A sociedade é rigidamente controlada e busca a felicidade universal através da eliminação de emoções fortes, da individualidade e da liberdade.
Estrutura Social e Reprodução
A estabilidade é alcançada por meio da produção em massa de seres humanos e do condicionamento:
• Ectogênese: A reprodução é realizada em laboratório, substituindo o nascimento vivíparo. O Processo Bokanovsky é um instrumento principal da estabilidade social, permitindo que um único óvulo se divida e gere de oito a noventa e seis indivíduos idênticos (gêmeos).
• Sistema de Castas: Os embriões são predestinados e condicionados desde o bocal, sendo classificados em castas (Alfas, Betas, Gamas, Deltas, e Epsilons). As castas inferiores são mantidas abaixo do normal, por exemplo, por meio de privação de oxigênio (afetando o cérebro), e são condicionadas a amar seu “destino social”.
• Condicionamento: O condicionamento Neo-Pavloviano incute aversões (como o ódio a livros e flores, para estimular o consumo de transporte e artigos manufaturados). A Hipnopedia (ensino durante o sono) é usada para a educação moral, inculcando axiomas sociais, como “Cada um pertence a todos”.
Controle e Felicidade
Para manter a estabilidade, a vida emocional é simplificada:
• Amor e Família: O casamento, a monogamia e a vida familiar são abolidos, pois são vistos como centros de individualismo e ameaças antissocialistas. O amor e a dor são eliminados junto com o casamento.
• Soma: O principal meio de controle é o soma, uma droga perfeita que é “eufórico, narcótico, agradavelmente alucinatório”. O soma permite a fuga da realidade e é descrito como “o cristianismo sem lágrimas”.
Enredo Principal
O livro apresenta Bernard Marx, um psicólogo Alfa-Mais com um complexo de inferioridade e tendências não ortodoxas e Lenina Crowne, uma jovem Beta perfeitamente condicionada,.
A narrativa ganha foco quando Bernard e Lenina visitam uma Reserva de Selvagens (Novo México). Lá, encontram Linda, uma Beta que se perdeu anos antes, e seu filho, John (O Selvagem), que foi criado fora da civilização e aprendeu a pensar por meio de livros antigos, principalmente as obras de Shakespeare.
A volta de Linda e John a Londres provoca um escândalo, levando à renúncia do Diretor de Incubação e Condicionamento (que se revela ser o pai de John), e a um debate central sobre os custos da felicidade e da estabilidade versus a liberdade individual,.
A Filosofia Distópica (Conforme o Prefácio)
O Selvagem é colocado diante de um dilema: aceitar a “insanidade na Utopia” ou a “vida de um primitivo numa aldeia de índios”. Ele acaba defendendo “o direito de ser infeliz”, o que inclui o direito à dor, à velhice, ao pecado, à poesia, ao perigo autêntico e a Deus, em oposição ao conforto imposto pela sociedade.
Huxley menciona no prefácio que, se reescrevesse o livro, ofereceria ao Selvagem uma terceira alternativa: uma sociedade não utópica, mais ‘perfeita’ e mais livre, baseada na descentralização, na busca consciente da sanidade de espírito e no conhecimento unitivo do Objetivo Final do homem.
A resenha acima foi feita automaticamente pelo Agente de Inteligência Artificial chamado NEXOS, especialmente desenvolvido para reconhecer padrões autocráticos em distopias.
O que podemos fazer com o livro de Huxley
Na comunidade alterdidática de aprendizagem chamada Clube de Leitura das Distopias - com a ajuda do NEXOS - vamos investigar, do ponto de vista da democracia, quais foram os padrões autocráticos presentes no livro Admirável Mundo Novo que se replicaram nos autoritarismos do século 20 e, inclusive, do século 21. Esse esforço tem um sentido: identificar alguns códigos de deciframento dos processos de autocratização que não foram tratados pelos teóricos da ciência política que vieram antes e depois do livro de Huxley.
Você também pode participar do Clube de Leitura das Distopias. Basta clicar no link abaixo e - se for o caso - fazer sua inscrição. As vagas são limitadas. E o clube vai começar a funcionar em 6 de novembro de 2025.



