Sobre a polarização tóxica
Há uma incompreensão sobre o que é polarização. Não é a rivalidade normal situação x oposição. É uma negação da legitimidade da situação ou da oposição.
Foram os populistas que introduziram esse tipo de polarização na política. Quando estão no governo, não aceitam o direito da oposição de existir. Quando estão na oposição não aceitam o direito do governo de governar. Quando situação e oposição são populistas, surge então a polarização tóxica.
Mas a polarização não precisa ser originalmente binária (ou bipolar). Uma (única) força populista pode desencadear a polarização tóxica ao negar a legitimidade de qualquer força política que não seja ela. Ela é essencialmente antipluralista. Isso aconteceu no Brasil com o "nós contra eles" do lulopetismo.
"Eles" são todos que não somos "nós". Quando nem havia bolsonarismo, "eles" eram os tucanos. Entretanto, a polarização PT x PSDB não se tornou tóxica porque os tucanos não eram uma força populista. Com o surgimento do bolsonarismo, que é uma força política populista, a polarização tóxica se instalou.
Há décadas existe rivalidade entre Republicanos e Democratas nos EUA. Mas a polarização tóxica atual na política americana foi introduzida por um (único) polo: Trump - não por Reagan ou pelos Bushs, muito menos por Carter, Clinton, Obama ou Biden.
Do ponto de vista da nova ciência das redes, a polarização tóxica acontece quando são criados poços de potencial no campo interativo. Um esboço de explicação sobre isso está no artigo O que é polarização.
P.S. O que estou tentando dizer é que a polarização tóxica não acontece porque existem dois polos rivais e aí eles entram em conflito. É sempre um polo que, atuando na base do "nós contra eles", deforma o campo interativo ensejando o surgimento de outro polo com comportamento-anti.
Esta nota foi escrita por Augusto de Franco, do staff de Inteligência Democrática.