Os livros banidos 4 - "Fahrenheit 451"
No Clube de Leitura das Distopias vamos ler os livros malditos (por alguns) e que foram banidos em vários países e circunstâncias diversas.
No primeiro capítulo da série abordamos o livro Nós de Yevgeny Zamyatin (1891).
No segundo capítulo da série abordamos dois livros de George Orwell (1945 e 1949), Animal Farm (traduzido no Brasil como A Revolução dos Bichos e, mais recentemente, como A Fazenda dos Animais) e Nineteen Eighty-Four (1984).
No terceiro capítulo da série focalizamos o livro Admirável Mundo Novo (Brave New World) de Aldous Huxley (1932).
Neste quarto capítulo vamos tratar do livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury (1953).
O livro Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, publicado em 1953, enfrentou proibições e restrições em vários países e contextos devido à sua crítica à censura, ao conformismo, à destruição da cultura e ao controle estatal sobre o pensamento. Embora não tenha sido tão amplamente banido quanto obras como 1984 ou A Revolução dos Bichos (A Fazenda dos Animais) de George Orwell, Fahrenheit 451 foi alvo de censura em diversos lugares. Abaixo estão os principais contextos onde o livro foi proibido ou enfrentou restrições.
Nos Estados Unidos. Fahrenheit 451 não foi proibido em nível nacional, mas enfrentou desafios significativos em escolas e bibliotecas, especialmente a partir das décadas de 1960 e 1970. Grupos conservadores, pais e conselhos escolares em vários estados (como Missouri, Texas e Califórnia) tentaram removê-lo de currículos escolares por considerá-lo “inapropriado” devido a temas como queima de livros, críticas à sociedade consumista e linguagem considerada ofensiva (em algumas edições expurgadas, palavras como “damn” foram removidas). Ironicamente, o livro sobre censura foi ele mesmo censurado em alguns distritos escolares. Por exemplo, em 1992, uma escola na Califórnia removeu o livro do currículo após reclamações de pais.
Na União Soviética e no bloco soviético. Embora não haja registros específicos de uma proibição formal, Fahrenheit 451 provavelmente enfrentou restrições na URSS e em países do Leste Europeu durante a Guerra Fria. A crítica de Bradbury à censura estatal e à destruição da cultura intelectual era vista como uma ameaça aos regimes comunistas, que controlavam rigidamente a literatura e a mídia. O livro pode não ter sido publicado oficialmente nesses países até a glasnost dos anos 1980.
Na China. É provável que Fahrenheit 451 tenha sido restringido na China, especialmente durante períodos de forte censura, como a Revolução Cultural (1966-1976) e em momentos de maior controle ideológico. A crítica à destruição de livros e ao controle do pensamento seria vista como uma ameaça ao regime. Embora não haja documentação clara de uma proibição formal, o controle estatal sobre a literatura tornava a circulação de obras como essa difícil.
Na Coreia do Norte. Não há registros públicos detalhados, mas, dado o controle extremo do governo norte-coreano sobre a mídia e a literatura, é praticamente certo que Fahrenheit 451 seja proibido ou inacessível. O livro, com sua crítica à censura e à supressão do pensamento crítico, seria considerado subversivo pelo regime.
Em Cuba. Não há registros específicos confirmando uma proibição formal de Fahrenheit 451 em Cuba, mas é provável que o livro tenha enfrentado restrições, especialmente durante as décadas de 1960 a 1980, sob o regime de Fidel Castro. O governo cubano censurava obras que criticassem o controle estatal, a propaganda ou a supressão da liberdade intelectual, temas centrais do livro de Bradbury. Assim como 1984, A Revolução dos Bichos (A Fazenda dos Animais) e Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451 teria sido visto como uma ameaça à narrativa revolucionária, e sua circulação provavelmente foi limitada ou desencorajada.
Nos países do Oriente Médio. Em alguns países com regimes autoritários ou conservadores, como a Arábia Saudita e o Irã, Fahrenheit 451 pode ter enfrentado restrições devido à sua crítica à censura e ao controle estatal, além de temas que poderiam ser considerados contrários a valores religiosos ou culturais. No entanto, a documentação sobre proibições específicas nesses países é limitada.
Na África do Sul (durante o apartheid). Durante o regime do apartheid (1948-1994), Fahrenheit 451 foi proibido em algumas ocasiões na África do Sul. O governo censurava livros que criticassem a opressão ou promovessem ideias de liberdade e resistência, e a mensagem de Bradbury contra a destruição da cultura e do pensamento crítico era vista como uma ameaça potencial. O livro foi incluído em listas de obras banidas em certos períodos.
Em outros regimes autoritários. Em ditaduras militares na América Latina, como no Brasil (1964-1985), na Argentina (1976-1983) e no Chile (1973-1990), Fahrenheit 451 pode ter enfrentado restrições informais ou dificuldades de circulação, especialmente por sua crítica à censura e ao autoritarismo. Embora não haja evidências de proibições formais generalizadas nesses países, o clima de repressão cultural tornava obras como essa alvos de controle.
O caso mais irônico de censura ao Fahrenheit 451 ocorreu com o próprio texto. Versões abreviadas e “limpas” do livro apareceram. Por anos, uma editora publicou uma edição escolar do romance que continha mais de 75 alterações sem o conhecimento ou consentimento de Bradbury. Foram removidas palavras como “inferno” e “droga”. Frases foram alteradas para suavizar o conteúdo, como a remoção de referências à gravidez e a substituição da palavra “aborto”. Quando Ray Bradbury descobriu essas alterações (décadas após a publicação inicial), ele reagiu com indignação, escrevendo prefácios e posfácios em edições posteriores para denunciar a atitude da editora.
Do que trata Fahrenheit 451
O resumo abaixo foi feito automaticamente pelo Agente de Inteligência Artificial chamado NEXOS, especialmente desenvolvido para reconhecer padrões autocráticos em distopias. Ele não está perfeito, mas poderá ser melhorado a partir de perguntas adicionais ou questionamentos feitos pelos participantes do Clube de Leitura das Distopias.
Fahrenheit 451 de Ray Bradbury é uma distopia de ficção científica publicada em 1953, ambientada numa sociedade americana futura e disfuncional onde livros são proibidos, a opinião própria é considerada antissocial, e o pensamento crítico é suprimido.
Cenário e Controle Social
A sociedade é anestesiada por informações triviais, e o entretenimento é dominado por telas de televisão que ocupam paredes inteiras das casas, exibindo “famílias” interativas com as quais as pessoas se relacionam como se fossem reais.
O personagem central é Guy Montag, um “bombeiro”, cuja função não é apagar incêndios (as casas são ignífugas), mas sim queimar livros. O título faz referência à temperatura de 451 graus Fahrenheit, na qual o papel incendeia.
O Capitão Beatty, chefe de Montag, explica que a queima de livros não foi imposta inicialmente pelo governo, mas surgiu do desejo das minorias e dos grupos de interesse de evitar que o material ofensivo perturbasse a “paz de espírito” e gerasse sentimentos de inferioridade ou infelicidade. A solução foi promover o entretenimento de massa, os esportes e os resumos (digest) para eliminar a necessidade e o desejo de pensar.
A Crise do Protagonista
Montag, inicialmente satisfeito com seu trabalho, tem sua vida vazia transformada ao conhecer sua vizinha, Clarisse McClellan, uma adolescente que reflete sobre o mundo e o questiona sobre sua felicidade e o papel dos bombeiros no passado. Clarisse, que é considerada “antissocial”, acaba desaparecendo.
A partir daí, Montag entra em crise e começa a esconder livros em sua própria casa, buscando o “que se podia encontrar nos livros”. Ele conclui que faltam três coisas na sociedade: a qualidade (detalhe, poros) do conhecimento, o tempo livre para assimilar esse conhecimento e o direito de agir com base nele.
Fuga e Conclusão
Montag busca auxílio em Faber, um ex-professor de literatura, para copiar um livro (a Bíblia) e planeja secretamente subverter o sistema.
• Traição e Morte: Montag é denunciado por sua esposa, Mildred. Ele é forçado a queimar sua própria casa, mas se volta contra seu superior, incendiando e matando o Capitão Beatty e destruindo o Cão-Policial Mecânico.
• A Caçada: Montag se torna um fugitivo caçado por um novo Cão-Policial Mecânico e helicópteros da polícia, sendo seguido pela televisão para um “espetáculo” (fake: encenado) transmitido ao vivo.
• Encontro com os Guardiões do Conhecimento: Ele escapa alcançando o rio e encontra uma comunidade de intelectuais, os “homens-livros”, que memorizaram obras inteiras (como Platão, Marco Aurélio e Swift) para preservá-las.
• O Novo Início: A cidade é atingida e destruída por bombas atômicas. Montag junta-se aos homens-livros, que se tornam a esperança de reconstrução de uma sociedade a partir da sabedoria e da memória, planejando construir uma fábrica de espelhos em primeiro lugar, para que as pessoas possam ver a si mesmas.
O que podemos fazer com o livro de Bradbury
Na comunidade alterdidática de aprendizagem chamada Clube de Leitura das Distopias - com a ajuda do NEXOS - vamos investigar, do ponto de vista da democracia, quais foram os padrões autocráticos presentes no livro Fahrenheit 451 que se replicaram nos autoritarismos do século 20 e, inclusive, do século 21. Esse esforço tem um sentido: identificar alguns códigos de deciframento dos processos de autocratização que não foram tratados pelos teóricos da ciência política que vieram antes e depois do livro de Bradbury.
Você também pode participar do Clube de Leitura das Distopias. Basta clicar no link abaixo e - se for o caso - fazer sua inscrição. As vagas são limitadas. E o clube vai começar a funcionar em 6 de novembro de 2025.



