No Clube de Leitura das Distopias vamos ler os livros malditos (por alguns) e que foram banidos em vários países e circunstâncias diversas.
No primeiro capítulo da série abordamos o livro Nós de Yevgeny Zamyatin (1891).
No segundo capítulo da série abordamos dois livros de George Orwell (1945 e 1949), Animal Farm (traduzido no Brasil como A Revolução dos Bichos e, mais recentemente, como A Fazenda dos Animais) e Nineteen Eighty-Four (1984).
No terceiro capítulo da série focalizamos o livro Admirável Mundo Novo (Brave New World) de Aldous Huxley (1932).
No quarto capítulo da série examinamos o livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury (1953).
Neste quinto capítulo vamos tratar da obra de Arhtur Koestler (1941), O Zero e o Infinito (Darkness at Noon) - que não é propriamente uma distopia, mas um relato ficcional de um regime realmente existente na União Soviética: o totalitarismo stalinista.
O Zero e o Infinito (Darkness at Noon), de Arthur Koestler, publicado em 1941, enfrentou proibições e restrições em vários países devido à sua crítica feroz ao stalinismo, aos julgamentos forjados e ao totalitarismo soviético. A obra, que retrata a prisão e o interrogatório de um bolchevique idoso, foi vista como uma ameaça direta aos regimes comunistas. Abaixo estão os principais locais onde o livro foi proibido ou censurado, com base em registros históricos.
Na União Soviética e nos países do bloco soviético. O livro foi imediatamente banido na URSS, onde foi considerado uma propaganda anticomunista. Sua publicação coincidiu com os julgamentos de Moscou dos anos 1930, e o regime stalinista censurou qualquer menção ou distribuição da obra.
Em países sob influência soviética, como Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental, durante a Guerra Fria, Darkness at Noon foi proibido por desafiar a ideologia oficial. A proibição na URSS persistiu até o final dos anos 1980, durante a era da glasnost.
Na China. Desde 2006, o livro está oficialmente banido pelos censores chineses, que o consideram uma crítica ao autoritarismo e ao controle do Partido Comunista Chinês. Apesar disso, cópias circulam clandestinamente, e livreiros independentes, como Liu Suli em Pequim, o vendem de forma semi-secreta, arriscando repressão.
Na Coreia do Norte. Embora não haja registros públicos detalhados devido ao isolamento do regime, é praticamente certo que Darkness at Noon seja proibido na Coreia do Norte. O governo censura rigorosamente qualquer obra que critique o totalitarismo ou regimes autoritários, e os temas do livro ressoam diretamente com as purgas e o culto à personalidade no país.
Em Cuba. Não há evidências específicas de uma proibição formal documentada, mas é altamente provável que o livro tenha enfrentado restrições durante o regime de Fidel Castro (especialmente nas décadas de 1960 a 1980). O governo cubano censurava obras anticomunistas ou que questionassem o controle estatal, similar a 1984 e A Revolução dos Bichos (A Fazenda dos Animais) de Orwell. Sua circulação teria sido limitada ou desencorajada, embora não haja confirmação explícita em fontes acessíveis.
Em outros regimes autoritários. Em contextos como a África do Sul durante o apartheid (1948-1994), o livro pode ter sido restringido por sua crítica à opressão política, embora não haja proibições formais generalizadas registradas. Na Espanha franquista e em algumas ditaduras da América Latina (como Argentina e Chile nos anos 1970-1980), obras semelhantes foram censuradas, e Darkness at Noon enfrentou dificuldades de importação ou distribuição devido ao seu conteúdo subversivo.
As proibições foram mais severas em regimes comunistas, onde o livro era visto como uma traição aos ideais revolucionários. No Ocidente, como nos EUA e no Reino Unido, não houve banimentos governamentais, mas ele foi controverso durante a aliança com a URSS na Segunda Guerra Mundial, o que limitou temporariamente sua promoção.
Com o colapso da URSS, as restrições diminuíram em muitos lugares, mas persistem em nações autoritárias como a China. O livro influenciou obras como 1984 de Orwell, que também citou Koestler em ensaios.
George Orwell menciona Arthur Koestler em vários de seus ensaios, mas a referência mais significativa aparece no ensaio “Arthur Koestler”, publicado em 1944 na coleção Critical Essays (ou Dickens, Dali and Others em algumas edições). Nesse ensaio, Orwell analisa a obra de Koestler, com destaque para o romance Darkness at Noon (O Zero e o Infinito), elogiando sua profundidade política e psicológica, mas também apontando limitações estilísticas. Além disso, Orwell faz referências breves a Koestler em outros textos, como em correspondências e no ensaio “The Prevention of Literature” (1946), onde discute ideias relacionadas à liberdade intelectual, um tema comum entre os dois autores.
Do que trata O Zero e o Infinito
O resumo abaixo foi feito automaticamente pelo Agente de Inteligência Artificial chamado NEXOS, especialmente desenvolvido para reconhecer padrões autocráticos em distopias. Ele não está perfeito, mas poderá ser melhorado a partir de perguntas adicionais ou questionamentos feitos pelos participantes do Clube de Leitura das Distopias.
O romance O Zero e o Infinito (Darkness at Noon), de Arthur Koestler, publicado em 1941, não é apenas uma obra de ficção política, mas uma profunda investigação sobre o colapso filosófico e moral do totalitarismo.
Koestler, ele próprio um ex-membro do Partido Comunista (do qual se desiludiu e saiu em 1938), emprega sua experiência e clareza de visão intransigente para expor as contradições lógicas que corroem os regimes autocráticos. O livro é frequentemente agrupado com outras distopias fundamentais, como Nós de Zamyatin (1921), Admirável Mundo Novo de Huxley (1932) e 1984 de Orwell (1949).
O Conflito Central: O Zero e o Infinito
O núcleo da narrativa se concentra no protagonista, um revolucionário veterano que se encontra preso e submetido ao “jogo estranho e fantasmagórico do julgamento público”. Seu dilema reside no conflito entre o indivíduo e a ideologia implacável do Partido:
1. A Negação do Indivíduo: Para o Partido, a existência do indivíduo (”eu”) era uma “qualidade suspeita”, e o “infinito” era visto como uma “quantidade politicamente suspeita”. A definição que o Partido dava ao indivíduo era puramente matemática e desumanizante: “uma multidão de um milhão dividida por um milhão”.
2. O Paradoxo da Obediência: A ideologia impunha uma contradição insustentável: negava o livre arbítrio do indivíduo e sua capacidade de distinguir o bem e o mal, mas, ao mesmo tempo, exigia seu “auto-sacrifício voluntário” e demandava que ele escolhesse “constantemente o certo”, falando pateticamente de “culpa e traição”. O protagonista percebe que “havia em algum lugar um erro no cálculo; a equação não se resolvia”.
A Crítica Ética: Navegando sem Lastro
A reflexão mais contundente do livro é a crítica ao preceito que havia guiado toda a vida do protagonista: “o fim justifica os meios”. Ele conclui que foi exatamente esta máxima que “matou a grande fraternidade da Revolução” e levou o movimento ao caos.
O protagonista lamenta que, ao queimar os resquícios da “antiga moralidade, ilógica” com o “ácido da razão”, o Partido optou por “navegar sem lastro ético”. Koestler sugere que a razão, por si só, é uma “bússola defeituosa” que desvia o curso até que o objetivo final desapareça na névoa. Esta dependência exclusiva da lógica leva o protagonista a um resultado “completamente absurdo”.
Contexto Distópico e Padrões Autocráticos
A exploração que Koestler faz da lógica totalitária alinha-se à análise de padrões autocráticos observados em diversas distopias.
• A negação da singularidade humana, transformando-o em uma mera função matemática, reflete o tema da despersonalização presente em regimes autocráticos, onde os indivíduos são frequentemente tratados por números ou títulos niveladores como “camarada”.
• O livro lida com a exigência de que os indivíduos pensem sob comando. A tentativa do Partido de impor a lógica de cima para baixo falha, pois “a equação não se resolvia”.
• O Zero e o Infinito ilustra como a busca pela felicidade ou igualdade como ideais supremos pode exigir sacrifícios e restrições de liberdade no presente, um padrão recorrente no pensamento autoritário.
Em suma, O Zero e o Infinito oferece uma análise incisiva de como o nihilismo ético e as contradições lógicas de um sistema que nega a individualidade conduzem inevitavelmente à escuridão, terminando não na utopia prometida, mas na traição do próprio indivíduo que dedicou sua vida ao ideal revolucionário.
O que podemos fazer com o livro de Koestler
Na comunidade alterdidática de aprendizagem chamada Clube de Leitura das Distopias - com a ajuda do NEXOS - vamos investigar, do ponto de vista da democracia, quais foram os padrões autocráticos presentes no livro O Zero e o Infinito que se replicaram nos autoritarismos do século 20 e, inclusive, do século 21. Esse esforço tem um sentido: identificar alguns códigos de deciframento dos processos de autocratização que não foram tratados pelos teóricos da ciência política que vieram antes e depois do livro de Koestler.
Você também pode participar do Clube de Leitura das Distopias. Basta clicar no link abaixo e - se for o caso - fazer sua inscrição. As vagas são limitadas. E o clube vai começar a funcionar em 6 de novembro de 2025.



