Panorama pré-eleitoral do ponto de vista da democracia
A hora de escolher chegou: é agora!
Até agora (final de dezembro de 2025) temos, lançado e sacramentado, um candidato governista que arrebanha a esquerda populista de raiz classista ou identitarista e adjacências: Lula da Silva. Temos um pretenso candidato de oposição da direita populista, Flávio Bolsonaro, lançado e abençoado pelo pai, Jair Bolsonaro, legalmente inelegível e que se encontra preso por tentativa de golpe de Estado.
Temos ainda candidatos presuntivos, governadores que se lançaram no mercado pré-eleitoral, como Romeu Zema, de Minas Gerais e Ronaldo Caiado, de Goiás. Ambos ex-apoiadores de Jair Bolsonaro.
Temos também Renan Santos, do Partido Missão, do MBL, um estranho movimento liberal (ou que, pelo menos, tem a palavra Livre no nome) que não trafega no campo da democracia liberal.
Especula-se ainda com os nomes dos governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo e Ratinho Jr, do Paraná - mas eles nunca chegaram a afirmar que serão candidatos a presidente em 2026. Provavelmente, não. Tarcísio reafirma sempre que é eternamente leal a Bolsonaro e por isso não se acredita que vá concorrer contra o seu filho. Ratinho pai tem muitos interesses econômicos que podem ser prejudicados caso seu filho resolva enfrentar Lula.
De sorte que, por enquanto, não há candidato de oposição democrática no Brasil. Existe uma oposição democrática, sim, mas ela está dispersa e ainda sem uma candidatura.
Por que isso está acontecendo? Uma explicação simplificada é a seguinte. O populismo lulopetista - com seu hegemonismo, seu vício de travar a luta política como uma guerra do "nós contra eles", além da imensa corrupção de todos os seus principais dirigentes - irritou as pessoas gerando o antipetismo. O antipetismo foi o caldo de cultura que ensejou o surgimento do populismo bolsonarista. Essas duas forças - lulopetismo e bolsonarismo -, por serem populistas, não se situam no campo da democracia liberal.
O chamado "centrão", um pântano de atores profissionais movidos por interesses privados, fisiologismo e corrupção, embora não seja antidemocrático, não é propriamente uma força política de situação ou oposição. Não se pode contar com ele para apresentar caminhos à sociedade brasileira.
É imperativo que surja um candidato democrático de oposição, que só crescerá se houver um programa claro e um movimento vigoroso da sociedade civil que, movendo-se inicialmente a partir de sua própria dinâmica e conquistando o apoio de alguns partidos ou federações, se apresente como a via democrática para o Brasil.
Se não houver uma candidatura democrática, não-populista de esquerda ou de direita, nas eleições de 2026, os democratas podem levar décadas para se recuperar. Considerando a terceira onda de autocratização que vem assolando o mundo desde o início do século, talvez não se recuperem como alternativa política concreta por várias décadas.
Portanto, alguém deve assumir essa função, mesmo que, segundo as pesquisas de hoje (que valem pouco), não tenha muitas chances de vencer o pleito. Mas projetará um caminho para 2030. Ocorre que 2030 passa necessariamente por 2026. Se não houver uma alternativa em 2026 ficará mais difícil construir, em cima da hora, um caminho para 2030.
Se Lula conquistar um quarto mandato, considerado o último possível por razões de idade, o PT partirá para o tudo ou nada - como, aliás, já começou a fazer. No período 2027-2030 o governo do PT se dedicará, precipuamente, a destruir qualquer embrião de projeto liberal (quer dizer, não-populista) que remanescer ou aparecer. Isso poderá acelerar o processo, já em curso, de transição autocratizante do nosso regime político.
A candidatura populista de direita, encabeçada por Flávio Bolsonaro, só é crível em razão da incompetência crônica de sua famiglia. Qual a lógica de ter um candidato que passe para o segundo turno para perder? Só pode ser impedir que outro candidato de oposição passe para o segundo turno com chance de ganhar. Isso significa uma preferência objetiva pelo candidato da situação. Na prática, o delinquente político que faz isso está pensando: "se não for eu (ou alguém com meu sobrenome), não será ninguém". Além de tudo, o raciocínio está errado. Nada indica que quem perder no segundo turno vai manter o capital político acumulado como força hegemônica de oposição em seu nome (ou, no caso, sobrenome) por quatro anos. Provavelmente poderá ser execrado como aquele que viabilizou mais uma reeleição de Lula.
Teme-se que, se por acaso o bolsonarismo, também populista e iliberal, vencer as eleições e voltar ao governo, nossa democracia poderá entrar em risco no curto prazo - embora a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil seja remotíssima.
De qualquer modo, é um imperativo sair dessa bifurcação que nos levará para um caminho não democrático, seja pela via do hegemonismo lulopetista, seja pela via do golpismo bolsonarista
Eduardo Leite poderá ser o nome da via democrática se tiver coragem e disposição e, de preferência, contar com o apoio do seu partido, já que nem Tarcísio, nem Ratinho Jr serão candidatos e Gilberto Kassab, dono do PSD, desconstruirá seu projeto se aderir a Lula.
Alessandro Vieira também poderia ser esse candidato, se quisesse (o que não parece ser o caso) e se o seu partido, o MDB, não estivesse parasitado, sobretudo no Norte e Nordeste, por forças colaboracionistas que farão tudo para destruir uma candidatura própria.
A questão é decisiva para a nossa democracia. Ganhando ou perdendo o país precisa de uma alternativa democrática em 2026. Apostar na loteria do calculismo eleitoreiro de uma vitória fácil em 2030, em razão da ausência de Lula, é coisa de aventureiros, não de dirigentes políticos conscientes de seu papel e de seu compromisso com a democracia.
Além disso, eleições são sempre imprevisíveis. Um democrata liberal - correndo por fora da polarização entre um lulopetista e um bolsonarista - pode surpreender. Claro que nada numa democracia é uma certeza, pois depende sempre sempre de nossas escolhas. Mas - como pré-campanha no Brasil é campanha - a hora de escolher chegou: é agora!



